COVID-19 e perda auditiva
Muitas complicações já foram associadas às infecções virais causadas pelo SARS-CoV-2, incluindo danos cardíacos, pulmonares e distúrbios neurológicos. Várias evidências sugerem que pacientes infectados com o SARS-Cov-2 correm importante risco de desenvolver perda auditiva, sobretudo a perda auditiva neurossensorial súbita (PANSS). Alguns estudos sugerem ainda que a perda auditiva pode ser efeito colateral da vacinação. Parece que, em casos raros, a perda auditiva é uma possível complicação de ambos.
Estudos realizados na Universidade de Manchester referem que a PANSS raramente é um sintoma do inicial da infecção pelo SARS-CoV-2. Segundo Karimi-Galougahi et al. (2020), em artigo publicado na Acta Otorhinolaryngologica Italica, vários pacientes iranianos relataram perda auditiva unilateral, além de vertigem. Kilic et al. (2020), em artigo publicado na International Journal of Infectious Diseases, mencionaram o caso de um homem egípcio sem outros sintomas de SARS-Cov-2 que apresentou PANSS e, em seguida, testou positivo para coronavírus. A patogênese da PANSS relacionada ao SARS-CoV-2 ainda é incerta.
O que parece ser mais usual, embora ainda raro, é desenvolver perda auditiva, zumbido ou vertigem mais tarde durante o processo de infecção pelo SARS-Cov-2, podendo se manifestar dias ou semanas depois. Almufarrij e Munro (2021) realizaram uma revisão sistemática atualizada de SARS-CoV-2 e sintomas auditivos e vestibulares e estimaram que: 7,6% dos pacientes relataram perda auditiva, 14,8% zumbido e 7,2% vertigem. Os autores enfatizam que ainda são necessários estudos com grandes populações para determinar a abrangência dos sintomas.
Em outubro de 2020 a revista médica BMJ Case Reports publicou um estudo de caso de um britânico de 45 anos de idade que apresentou zumbido e PANSS unilateral após infecção grave de SARS-CoV-2. Após a administração de esteróides houve recuperação parcial da audição. Embora não seja possível provar que a etiologia da perda auditiva tenha sido o vírus causador da COVID-19, os autores referem que parece ser muito provável que tenha sido o caso, uma vez que o paciente não recebeu nenhum medicamento ototóxico.
Frazier et al. (2020) em estudo publicado no JAMA Otolaryngol Head Neck Surg. realizaram autópsia pelo programa de autópsia de pesquisa do Hospital Johns Hopkins em 3 pacientes que testaram positivo para COVID-19. Este estudo confirmou a presença do vírus SARS-CoV-2 na orelha média e na mastóide, com implicações significativas para os procedimentos otorrinolaringológicos. O estudo alerta a cautela necessária para todas as cirurgias otológicas eletivas devida a taxa assintomática de casos de COVID-19. Por essa razão o status negativo por teste é indicado.
Um relato de caso publicado pela Clínica Mayo em agosto de 2020, um paciente alemão experimentou perda auditiva profunda aguda após desenvolver pneumonia por COVID-19.
Munro el al. (2020) em estudo realizado no Reino Unido, relataram que quase 1 em cada 10 pacientes com coronavírus citaram perda auditiva ou zumbido após 8 semanas. Os autores apontaram que a perda auditiva e o zumbido podem não estar relacionados ou estar indiretamente relacionados, como um efeito colateral de medicamentos
Quando a variante Delta surgiu a pandemia mudou exponencialmente. A cepa, além de ser mais contagiosa, mudou a trajetória do vírus e alterou os sintomas mais comuns da variante Alpha. Segundo Nicole Frommann, diretora médica do TGH Urgent Care na Flórida, pacientes infectados pela variante Delta relataram dores de ouvido com mais frequência que os pacientes infectados pela Alpha. Segundo Frommann, as dores de ouvido relacionadas ao vírus SARS-CoV-2 estão, geralmente, associadas a outros sintomas, especialmente dor de garganta.
Já para variante Ômicron, Konstantina Stankovic, chefe do Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Universidade de Stanford, afirma que a perda auditiva é o único sinal de infecção pela COVID-19. Ao recriarem um modelo de ouvido e sua exposição a um teste de COVID-19, concluíram que o prejuízo no ouvido tenha sido causado pela infecção através do nariz, principal porta de entrada do vírus e suas variantes no organismo.
As vacinas podem também causar perda auditivas, segundo estudos publicados na edição de fevereiro de 2022 da JAMA Otolaryngology-Head & Neck Surgery em que avaliaram se a perda auditiva súbita poderia ocorrer após a vacinação contra a COVID-19. Um estudo foi conduzido em Israel e outro nos EUA.
No estudo israelense, que incluiu cerca de 2,5 milhões de pessoas, a perda auditiva súbita ocorreu em apenas 91 pessoas após a primeira dose e em 79 pessoas após a segunda dose. Estes são números muito baixos, mas ainda um pouco acima do esperado, disseram os pesquisadores. Todos receberam a vacina Pfizer-BioTech mRNA.
Enquanto isso, um estudo dos EUA que analisou um conjunto de dados menor descobriu que a taxa de perda auditiva súbita pós-vacinação não era maior do que a que você normalmente veria na população em geral.
Vale ressaltar que os benefícios da vacinação superam os riscos, segundo argumentaram os especialistas em doenças infecciosas.
O que a mídia falou sobre o assunto: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2022/12/perda-de-audicao-pode-ser-sequela-de-covid-entenda.shtml
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