Há relação causal entre Herpes zoster e COVID-19?
Muito tem-se falado sobre a existência de uma correlação entre o risco aumentado de infecção por herpes zoster (HZ) após infecção por COVID-19, uma vez que alguns pacientes relataram episódio de herpes zoster após infecção pelo SARS-CoV-2, vírus causador da COVID-19. O que a ciência diz sobre esse assunto?
Antes de mais nada vamos falar do herpes zoster que é uma doença causada pela reativação do vírus latente da varicela zoster (VZ) após queda da imunidade mediada por células. Segundo Almutairi et al (2022), o vírus da VZ é um vírus neurotrópico [1]humano que causa a varicela. Wung et al (2005) afirma que o vírus VZ permanece dormente dentro dos gânglios sensoriais, notadamente, os gânglios da raiz dorsal, gânglios trigêmeos e gânglios entéricos após a exposição inicial do vírus na forma de infecção por catapora. O HZ possivelmente aparece quando o sistema imunológico não consegue conter a replicação dormente do VZ. Consequentemente, ocorre frequentemente em idosos, pacientes infectados pelo HIV e é mais comum em pacientes gravemente imunocomprometidos.
Trauma, radiação, certos medicamentos e estresse também podem desencadear HZ, mas não foram determinados com certeza (DWORKIN et al, 2007; TSENG et al, 2020).
O HZ é caracterizado pela ocorrência de vesículas e ulcerações múltiplas, dolorosas e unilaterais, e tipicamente limitada a um único dermátomo [2]inervado por uma única raiz dorsal ou gânglio sensitivo cranial (DAYAN, PELEG, 2017).
Estudos apontam que a infecção por COVID-19 pode representar um gatilho para a reativação do HZ. Durante a pandemia de COVID-19 foram relatados casos da coexistência do vírus SARS-CoV-e e VZ com comprovação laboratorial ou uma frequência aumentada de HZ (ALMUTAIRI, 2022). A linfopenia associada à COVID-19, sobretudo os linfócitos CD3 + CD 8 + e o comprometimento funcional das células T CD4 +, podem tornar o paciente com COVID-19 mais propenso a desenvolver HZ ao reativar o VZ. Saati et al (2020) afirmam que o HZ pode ser uma indicação de infecção por COVID-19 não diagnosticada entre os mais jovens.
Em maio de 2022, Agrawal, Verma, Verma e Gandhi, em artigo publicado na revista Cureus, levantam a hipótese que a reativação do VZ pode ser um dos efeitos colaterais das vacinas para combater a infecção pelo SARS-CoV-2. No entanto, existem dados limitados sobre os efeitos negativos da reativação imunológica após a vacinação. Em seu artigo, relatam 10 casos de reativação do HZ no período de 7 a 21 dias após a vacinação contra COVID-19. A imunomodulação transitória após a vacinação, semelhante à observada na doença de COVID-19, pode ser uma explicação para essa reativação.
Em contraponto ao achado acima relatado, em artigo publicado na JAMA Network, Acharya (2002) afirmou, após um estudo de corte usando dados de sinistros de seguros não encontrou associação entre vacinação contra COVID-19 e um risco aumentado de infecção por herpes zoster. Esses resultados podem ajudar a abordar as preocupações sobre o perfil de segurança das vacinas COVID-19 entre pacientes e médicos.
Algaadi (2022) realizou uma revisão de literatura sobre o HZ associado ao COVID-19. Os resultados mostram que a linfopenia foi prevalente em 86,6% dos pacientes, sendo que essa seja a principal hipótese causadora da reativação do VZ. Dessa forma, infere-se que a infecção pelo COVID-19 seja prejudicial a função das células T, levando o paciente a um caso de imunossupressão.
Novos estudos são necessários para avaliar as implicações adicionais dos efeitos colaterais da COVID-19 bem como da vacina que protege da infecção pelo SARS-CoV-2.
[1] Vírus neurotrópico é um vírus capaz de infectar o tecido nervoso.
[2] Dermátomo é uma área cutânea com estímulos providos pelos ramos cutâneos de um único nervo espinhal.
Veja também: https://sigla-educacional.builderallwppro.com/covid-19-e-perda-auditiva/
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