A menopausa e o cérebro

menopausa

Escrito por Sigla Educacional

6 de maio de 2023

A menopausa e o cérebro: como acontece a remodelagem do cérebro

Artigo publicado em 3 de maio de 2023 na revista Nature explica como a menopausa modifica o cérebro. A Profa. Dra. Naomi Rance [1] iniciou o estudo de como a menopausa afeta a arquitetura cerebral na década de 1990. Nos estudos post-mortem a pesquisadora identificou neurônios no hipocampo com tamanho quase 2 vezes maior que o normal em mulheres na fase pós menopausa. Esse dado chamou a atenção da pesquisadora se tornou um de seus campos de pesquisa.

Seus estudos se iniciaram em ratos, entendendo, detalhadamente, a ação dos neurônios e inventando uma forma de estudar os sintomas da menopausa nos animais, rastreando as mudanças de temperatura nas suas caudas, ainda que sutis, como uma medida de ondas de calor, um sintoma muito comum da menopausa que se acredita ser desencadeada no hipotálamo.

Mas afinal, o que é a menopausa? Ela se refere a interrupção da menstruação por, pelo menos, 12 meses consecutivos e acontece em pessoas do gênero feminino com idade entre 45 e 55 anos. Nessa fase ocorre a produção errática de hormônios sexuais essenciais, como o estrogênio e a progesterona. Essa mudança não acontece de uma hora para outra, é um processo gradual e longo. Segundo Ami Raval, professora de reprodução e neurologia da Universidade de Miami, o ovário envia sinais lentamente avisando que é hora de desligar sua fisiologia.

Durante essa fase incerta, que pode durar anos, os hormônios flutuantes não sabem se sobem ou descem em seus possíveis padrões previsíveis. Nessa fase de perimenopausa os neurônios cerebrais que dependiam da sinalização enviada pelo estrogênio podem passar por maus bocados, uma vez que os sinais enviados podem ficar confusos.

O estrogênio tem grande importância para o cérebro, uma vez que ele é responsável pela captação da glicose e produção de energia. No período de transição entre a fase fértil da mulher e a menopausa, a perimenopausa ou pré-menopausa, os níveis hormonais ficam bastante flutuantes, podendo cair em uma semana e subir na seguinte, uma verdadeira discórdia e balburdia hormonal, resultando em neurônios periodicamente privados de estrogênio, mas em tempo menor que o necessário para forjar os caminhos necessários para se adaptar à vida sem ele. Já na fase da menopausa os neurônios se acostumam com a ausência do estrogênio, se adaptando a viver sem ele.

A pré-menopausa ainda é pouco discutida e seus sintomas são motivo de chacota para muitos, fazendo com que muitas mulheres tenham vergonha de discutir a menopausa e procurar ajuda para aliviar os sintomas. Quanto aos sintomas, alguns deles são característicos como os fogachos, menstruações irregulares, ansiedade, pressão alta e a temida “névoa cerebral” que impede a concentração. É nessa fase que os sintomas aparecem com maior frequência. Alguns pesquisadores apontam que essa fase é o momento-chave para iniciar tratamentos que facilitem a transição para a menopausa, minimizando o ritmo de doenças relacionadas a idade que podem aparecer posteriormente no pós-menopausa, como a doença de Alzheimer e acidente vascular cerebral.

Quando a pré-menopausa começa e quando termina? Eu diria que é uma ótima questão, já que seu início e final bem estabelecidos, alguns estudiosos dizem que ela pode ser curta para algumas mulheres e outras podem enfrentar os sintomas por anos ou décadas.

Nem tudo são farpas e as mulheres não precisam se sentir sós nem desamparadas, já que os tabus que cercam a menopausa e sua discussão estão diminuindo, dando voz e vez para as mulheres discutirem os sintomas que experimentam durante a pré-menopausa. No Brasil, a atriz Ângela Dippe discute o tema abertamente em suas redes sociais, além de encenar um monólogo “A comédia da puberdade à menopausa” que aborda o tema.

A indústria farmacêutica, 30 anos depois das pesquisas da Dra. Rance, desenvolveu um medicamente NÃO HORMONAL para tratar a fonte dos fogachos, sintoma quase que sinônimo da menopausa, uma vez que é experimentado por 80% das mulheres. A droga em questão é o fezolinetant, que atualmente está em fase de aprovação pelo FDA e tem previsão de aprovação ainda no primeiro semestre de 2023. Os pesquisadores relatam que a fase da pré e da menopausa podem preparar a saúde do cérebro na essa nova fase.

Vale lembrar que muito em breve o número mundial de pessoas do gênero feminino na pós-menopausa deve ultrapassar UM BILHÃO.

[1] Profa Emérita de patologia, professora de medicina celular e molecular, neurologia da Faculdade  de Ciências da Saúde da Universidade do Arizona e do Instituto do Cérebro Evelyn F McKnight.

www.siglaeducacional.com.br

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