Por que o câncer colorretal e de bexiga são mais agressivos em pessoas do gênero masculino (portadores dos cromossomos XY)?
Dois estudos recentes nos ajudam a entender o porquê os tumores colorretais e da bexiga afetam mais indivíduos do gênero masculino do que feminino. A explicação tem nome, cromossomo Y.
Em 21 de junho a revista Nature publicou 2 estudos que abordaram o câncer colorretal e o câncer de bexiga, ambos agressivos nos indivíduos do gênero masculino. Em um dos estudos os pesquisadores descobriram que a perda de todo o cromossomo y em algumas células, o que é absolutamente natural durante o processo de envelhecimento, aumenta o risco do câncer de bexiga ser mais agressivo e, além disso, abre uma brecha para que esse tipo de câncer escape de ser detectado pelo sistema imunológico.
Um estudo em camundongos mostrou que o risco de alguns cânceres colorretais aumenta o risco de metástases. Portanto, essas pesquisas nos mostram que, além do estilo de vida, existe um componente genético no tipo de grau de agressividade do câncer.
Explico: o estilo de vida esteve na berlinda e levou a culpa pelo fato de alguns tipo de cânceres serem mais comuns e agressivos em homens do que em mulheres. Quando os fatores comportamentais que são mais incidentes no gênero masculino são isolados, as diferenças na taxa ou na agressividade do câncer persiste.
Os pesquisadores também revelaram que o cromossomo Y pode ser perdido espontaneamente durante a divisão celular. Com o envelhecimento existe uma diminuição de células sanguíneas sem o cromossomo Y e essas células tem sido associadas a condições como doenças cardíacas, condições neurodegenerativas e alguns tipos de câncer.
Um estudo realizado por Dan Theodorescu e colaboradores isolaram as células de câncer de bexiga sem o cromossomo Y, seja por perda espontânea ou retirados através da edição do genoma, e as implantaram em camundongos. Os resultados mostram que essas células sem o cromossomo Y eram mais agressivas do que as células cancerígenas com o cromossomo Y. O estudo também revelou que as células imunes que circundavam os tumores sem o cromossomo Y tendiam a ser disfuncionais.
As pesquisas também mostraram que, nos camundongos, um anticorpo terapêutico pode restaurar a atividade dessas células imunes foi mais eficaz contra esses tumores sem o Y do que em tumores que ainda tinham o cromossomo Y. A mesma tendência foi verificada em humanos.
Outro estudo realizado no Anderson Câncer Center da Universidade do Texas mostrou, em um estudo com câncer colorretal em camundongos, descobriu que um gene no cromossomo Y chamado KDM5D pode enfraquecer as conexões entre as células tumorais, ajudando as células a se separarem e se espalharem para ouras partes do corpo. Quando esse gene foi retirado, as células tumorais tornaram-se menos invasivas e mais propensas a serem reconhecidas pelas células do sistema imunológico. Esse é uma importante informação pois representa um alvo para as terapias anticancerígenas.
Portanto, a depender do tipo de câncer que está sendo estudado/tratado, o cromossomo Y terá um papel diferente, em um caso, como no câncer de bexiga desempenha um papel protetor e no câncer colorretal o cromossomo Y desempenha um papel prejudicial. Essa é mais uma prova que o tumor não tem o mesmo comportamento biológico, é preciso observar o efeito da perda do cromossomo Y nos diferentes tipos de tumor. Não é possível generalizar.
https://www.nature.com/articles/d41586-023-01987-x
https://www.nature.com/articles/s41586-023-06234-x
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