Desmaios: a ciência finalmente tem a resposta do porquê

desmaios 2

Escrito por Sigla Educacional

6 de novembro de 2023

A ciência finalmente tem a resposta do porquê dos desmaios

Viu seu artista preferido e desmaiou? Na sua imaginação a cena era linda, você avistaria seu ídolo, tiraria uma self com ele e, de lambuja, seria convidado para entrar no camarim e teria uma inspiradora conversa com ele. A realidade, você desmaiou assim que o avistou e acabou a noite deitado na maca do SAMU. Triste fim…. Mas, pelo menos, você será capaz de entender o que te fez desmaiar e perder o dia, ou a noite, mais importante de sua vida, pelo menos até agora.

desmaiosMais uma vez foram os camundongos que nos ajudaram a entender as conexões cérebro-coração que nos fazem perder a consciência rapidamente e acordar momentos depois. As causas dos desmaios são variadas: seja por causa do calor, da fome, de ficar em pé por muito tempo ou apenas pela visão de sangue ou agulhas, 40% das pessoas desmaiam pelo menos uma vez na vida. A exata causa das síncopes, nome técnico das breves perdas de consciência, tem sido um mistério.

Um estudo publicado na Nature em 1º de novembro Lovelace e colaboradores descobriram a via neural que controla o processo, envolvendo um grupo de neurônios sensoriais que conectam o coração ao tronco cerebral. Nesse estudo os autores relatam que a ativação desses neurônios fez com que os ratos parassem de se mover e caíssem quase imediatamente, apresentando então sintomas observados durante a síncope humana, como rápida dilatação da pupila e revirar os olhos.

Os autores sugerem que esta via é a chave para a compreensão dos desmaios, para além da observação de longa data de que resulta da redução do fluxo sanguíneo no cérebro. Os cientistas descobriram que há uma redução do fluxo sanguíneo, mas, ao mesmo tempo, existem circuitos dedicados no cérebro que manipulam isso e o estudo destas vias pode inspirar novas abordagens de tratamento para causas cardíacas de síncope.

O enigma dos desmaios permaneceu por tanto tempo pois os cientistas, até então, estudavam os sistemas separadamente, ou seja, ou estudavam o coração ou o cérebro. Nesse novo estudo os autores desenvolveram ferramentas para mostrar como estes dois sistemas interagem.

Usando a análise de sequenciamento de RNA unicelular do gânglio nodoso, parte do nervo vago (que conecta o cérebro a vários órgãos, incluindo o coração), a equipe identificou neurônios sensoriais que expressam um tipo de receptor envolvido na contração de pequenos músculos em veias de sangue.

Esses neurônios, chamados VSNs NPY2R, são distintos de outros ramos do nervo vago que se conectam aos pulmões ou ao intestino. Em vez disso, eles formam ramos nas partes musculares inferiores do coração, chamadas ventrículos, e se conectam a uma área distinta do tronco cerebral chamada área postrema, área do mielencéfalo, consiste num órgão circuventricular com capilares permeáveis e neurônios sensoriais que permite detectar mensageiros químicos presentes no sangue e traduzi-los em circuitos neuronais.

Ao combinar imagens de ultrassom de alta resolução com optogenética – uma forma de controlar a atividade neuronal usando luz – os pesquisadores estimularam os VSNs NPY2R em camundongos enquanto monitoravam a frequência cardíaca, a pressão arterial, a respiração e os movimentos oculares dos animais. Isso permitiu à equipe manipular neurônios específicos e visualizar o coração em tempo real.

Quando os VSNs NPY2R foram ativados, os ratos que se moviam livremente desmaiaram em poucos segundos. Além de apresentarem rápida dilatação das pupilas e olhos revirando nas órbitas, os ratos demonstraram outros sintomas de síncope em humanos, incluindo redução da frequência cardíaca, pressão arterial, frequência respiratória e fluxo sanguíneo para o cérebro. Dessa forma, descobriram que existem receptores no coração que, quando disparados, irão desligá-lo.

Os humanos, geralmente, se recuperam rapidamente da síncope pois os neurônios no cérebro são muito parecidos com crianças extremamente mimadas. Eles precisam de oxigênio e de açúcar imediatamente, caso contrário irão parar de funcionar rapidamente pela privação de oxigênio e glicose. Os neurônios começarão a morrer após, em média, 2 a 5 minutos pela escassez ou falta de oxigênio. Entretanto, a síncope normalmente dura mais ou menos 60 segundos. Recebendo oxigênio novamente essas células voltarão a funcionar e o farão de forma bastante rápida.

E a atividade cerebral, como fica durante o desmaio?

Para entender melhor o que acontece dentro do cérebro durante a síncope, os pesquisadores usaram eletrodos para registrar a atividade de milhares de neurônios de várias regiões do cérebro em camundongos enquanto os animais desmaiavam. A atividade diminuiu em todas as áreas do cérebro, exceto em uma região específica do hipotálamo conhecida como zona periventricular, responsável pela regulação do sistema nervoso autônomo, a liberação de hormônios do lobo posterior da hipófise e o ritmo circadiano.

Os autores bloquearam então a atividade da zona periventricular e os ratos experimentaram episódios de desmaios mais longos. Estimular a região fez com que os animais acordassem e voltassem a se movimentar. A equipe sugere que uma rede neural coordenada que inclua VSNs NPY2R e zona periventricular regule o desmaio e a recuperação.

 

Fonte: https://www.nature.com/articles/s41586-023-06680-7

Você pode gostar também

Mia le Roux, a primeira miss sul-africana surda

Mia le Roux, a primeira miss sul-africana surda

Mia le Roux, a primeira miss sul-africana surda Mia le Roux, miss África do Sul 2024, foi diagnosticada com surdez profunda com 1 ano de idade e, aos 2 anos, recebeu implante coclear, o que lhe permitiu entrar em contato com o mundo sonoro. Le Roux fez terapia...

ler mais
Os autistas e a percepção de tempo

Os autistas e a percepção de tempo

Os autistas e a percepção de tempo Os cientistas Daniel Poole, Luke Jones, Emma Gowen e Ellen Poliakoff, realizaram uma pesquisa com o objetivo de avaliar a percepção de tempo de pessoas autistas. Muitas pessoas autistas relatam dificuldades relacionadas ao tempo,...

ler mais
Compreensão de fala: dependência simultânea de pistas

Compreensão de fala: dependência simultânea de pistas

Compreensão de fala: dependência simultânea de pistas A pesquisa auditiva moderna identificou a capacidade dos ouvintes de segregar fluxos de fala simultâneos com uma dependência de três principais pistas, a saber: são a estrutura harmônica da fala, a localização do...

ler mais
Crianças e dificuldades auditivas

Crianças e dificuldades auditivas

Crianças e dificuldades auditivas: respostas cerebrais ao tom de voz podem oferecer respostas Crianças frequentemente precisam se comunicar em ambientes com ruídos e ecos que distraem. Esses ambientes representam um grande desafio, especialmente para aquelas com perda...

ler mais
O envelhecimento e o córtex pré-frontal

O envelhecimento e o córtex pré-frontal

O córtex pré-frontal e seu risco durante o envelhecimento Durante a evolução “ganhamos” o córtex pré-frontal, mas ele está em maior risco durante o envelhecimento. O grande córtex pré-frontal, que nos proporciona vantagens evolutivas e cognitivas em relação aos...

ler mais
O ruído, o silêncio e a aprendizagem

O ruído, o silêncio e a aprendizagem

O ruído, o silêncio e a aprendizagem O ruído está em todos os lugares, restaurantes, ginásios de esporte, sejam abertos ou fechados, shows, auditórios e tantos outros que você possa imaginar. Infelizmente, o ruído também está presente nas salas de aula. Entretanto,...

ler mais
Ruído branco indutor de sono para recém-nascidos?

Ruído branco indutor de sono para recém-nascidos?

Ruído branco indutor de sono para recém-nascidos: mocinhos os vilões? Sempre achei fantástico pensar que a audição não pode ser desligada, não funciona como a visão que, caso não queríamos ver determinada cena, simplesmente fechamos os olhos e eliminamos a indesejada...

ler mais
Nipah vírus, a volta daquele que nunca se foi

Nipah vírus, a volta daquele que nunca se foi

Nipah vírus, a volta daquele que nunca se foi Antes de entendermos a nova presença do vírus, vamos entender o que é o Nipah Vírus. O Nipah Vírus é transportado por morcegos frugívoros, conhecidos como raposas voadoras. A descoberta desse vírus ocorreu em 1999 após um...

ler mais

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *