Enjoo matinal extremo: possível causa identificada?

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Escrito por Sigla Educacional

1 de abril de 2024

Enjoo matinal extremo: possível causa identificada?

A princesa Kate Middleton e a multitalentosa Tatá Werneck tiveram hiperêmese gravídica (HG), quadro que acomete aproximadamente 3% das gestantes, esse quadro faz com que a gravidez seja classificada como de “alto risco”. Cientistas da Universidade de Cambridge se debruçaram sobre o assunto e identificaram o hormônio GDF15, produzido pela placenta e por outros tecidos quando a mulher não está grávida.

enjoo 2Apesar de ser conhecido como “enjoo matinal”, esses episódios de mal-estar podem ocorrer em qualquer momento – e, em alguns casos, podem progredir para hiperêmese gravídica, uma condição séria associada ao enjoo matinal que pode levar à perda de peso, desidratação e, em casos extremos, exigir hospitalização, de acordo com informações da Clínica Mayo.

Contudo, devido à prevalência dos enjoos matinais, os casos mais severos são muitas vezes negligenciados, como afirmou a Dra. Marlena Fejzo, geneticista da Escola de Medicina Keck da Universidade do Sul da Califórnia e coautora do recente estudo, ao The New York Times. A Dra. Fejzo, que trabalha nesse assunto há 20 anos, afirma que existem relatos de mulheres morrendo por essa razão e tantas outras são maltratadas. Fejzo entrou nesse universo da hiperêmese gravídica após sua luta contra a doença que se apresentou de forma muito grave e que foi a causa de um aborto espontâneo.

O estudo publicado na revista Nature revela que elevados níveis de GDF15 no sangue materno estão associados a vômitos durante a gestação, e, mais do que isso, esse estudo pode abrir portas para pesquisas que busquem medicamentos que bloqueiem os efeitos do hormônio.

Contudo, apesar do crescente reconhecimento da condição, alguns argumentam que a hiperêmese gravídica – e os enjoos matinais em geral – são muitas vezes subestimados, considerados simplesmente uma parte inevitável da gravidez e que as mulheres devem suportar. A descoberta do papel do hormônio nos enjoos matinais auxiliará as pessoas no entendimento que a hiperêmese é real e não algo criado pelas gestantes.

 

Leia a notícia na íntegra: https://www.nytimes.com/2023/12/13/health/morning-sickness-hyperemesis-gravidarum.html

 

Resumo do artigo publicado na Nature

Você deve estar se perguntando como se dá a atuação desse hormônio do organismo da mulher? Vamos lá, o GDF15 atua diretamente no tronco cerebral, mas a explicação mecanicista de sua atuação ainda não é conhecida, precisaremos aguardar as cenas dos próximos capítulos. O GDF15 é um dos peptídeos mais abundantes secretados pelos organoides trofoblásticos humanos.

Embora náuseas e vômitos sejam sintomas comuns em grande parte das gestações humanas, eles tendem a ser debilitantes e, em casos graves, até mesmo fatais. Apesar disso, a causa subjacente e o processo que os desencadeia ainda não são totalmente compreendidos. Apresentamos aqui evidências que sugerem que a gravidade desses sintomas durante a gravidez resulta da interação entre o GDF15, uma proteína derivada do feto, e a sensibilidade materna a esse peptídeo, sendo esta última influenciada significativamente pela exposição anterior ao hormônio.

Os autores utilizaram imunoensaios que não são confundidos pela variante comum H202D, mostraram que os níveis de GDF15 na circulação materna no final do primeiro trimestre gestacional são significativamente maiores em mulheres com HG em comparação com aquelas sem náusea a vômitos graves.

Em uma nova análise de mulheres grávidas, foi observado que níveis elevados de GDF15 no sangue materno, medidos no segundo trimestre, estavam associados a um maior risco de náuseas e vômitos durante a gravidez, incluindo casos graves de hiperêmese gravídica (HG). No entanto, devido à sobreposição nos níveis de GDF15 entre casos de HG e mulheres sem sintomas, não é possível usar esses níveis sozinhos para diagnosticar HG.

A aplicação da espectrometria de massa a pares mãe/filhos geneticamente discordantes e levou a identificação da Identificamos a unidade feto-placentária como a principal fonte de GDF15 presente no sangue materno, o que está de acordo com estudos anteriores que observaram altos níveis de expressão do gene GDF15 e liberação de proteínas pelo trofoblasto humano.

É importante notar que esses estudos foram conduzidos em gestações saudáveis; portanto, em mulheres com hiperêmese gravídica, é possível que tecidos sob estresse contribuam adicionalmente para os níveis circulantes de GDF15.

Uma variante rara do gene GDF15, chamada C211G, aumenta consideravelmente o risco de hiperêmese gravídica (HG). Descobriu-se que essa mutação está ligada a níveis reduzidos de GDF15 no sangue fora da gravidez, devido aos efeitos prejudiciais da mutação na sua secreção. Além disso, variantes comuns associadas ao risco de HG também estão ligadas a níveis baixos de GDF15 fora da gravidez.

Por outro lado, níveis elevados de GDF15 antes da gravidez, como os encontrados em certas condições médicas, estão ligados a uma menor probabilidade de náuseas e vômitos na gravidez. Isso é consistente com estudos que mostram que o tabagismo antes da gravidez, que está relacionado a níveis elevados de GDF15, reduz o risco de HG.

Além disso, descobriu-se que a exposição prévia ao GDF15 pode levar à dessensibilização do sistema GDF15/GFRAL-RET, o que pode explicar por que mulheres com altos níveis de GDF15 antes da gravidez têm menor risco de desenvolver NVP e HG, apesar do aumento significativo de GDF15 durante a gravidez.

Os achados revelam que os níveis de GDF15 estão aumentados em mulheres grávidas com náuseas e vômitos na gravidez (NVP) e hiperêmese gravídica (HG) em comparação com aquelas sem esses sintomas, e confirmam que a principal fonte de GDF15 no sangue materno é a unidade feto-placentária. Descobriram que mães com HG possuem variantes genéticas de GDF15 associadas a níveis mais baixos de GDF15 fora da gravidez, transmitindo esses alelos aos seus descendentes, o que pode reduzir os níveis de GDF15.

Essas observações levantam questões sobre como esses fenômenos estão interligados. Além das variantes genéticas, fatores como o sexo fetal feminino, a presença de gêmeos ou a doença trofoblástica invasiva também podem influenciar a produção de GDF15 pela unidade feto-placentária.

Para a variante de risco C211G da HG, observaram uma possível interação entre os genótipos maternos e fetais de GDF15, com o tipo de feto moderando o efeito materno. No entanto, devido ao tamanho limitado da amostra, são necessários estudos adicionais para confirmar essas descobertas e investigar mais a fundo a relação entre genética materna e fetal, sintomas de HG e níveis pré-natais de GDF15.

https://www.nature.com/articles/d41586-023-03982-8

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