Memórias não podem ser sobrescritas

memórias

Escrito por Sigla Educacional

8 de janeiro de 2025

Memórias não podem ser sobrescritas, a ciência do sono pode explicar

Já pensou que triste seria esquecer daquele abraço especial, da primeira carta de amor ou das palavras ditas por aquela pessoa especial? Se nossa memória pudesse ser sobrescrita certamente nos esqueceríamos de fatos importantes de nossa vida e a memória que trazemos de nossa história seria fragmentada e recoberta por fatos pouco certos. Será que poderíamos confiar no que nossa memória resgata ou estaríamos sempre com uma eterna interrogação sem saber se aquilo que nos recordamos aconteceu de fato ou é alguma criação nossa. Acho que não daríamos conta disso.

Mas calma, não fique aflito(a), nossa memória não pode ser sobrescrita. Artigo publicado na revista Nature no dia 03 de janeiro de 2025, revela que novas evidências revelam pistas sobre como o cérebro evita o “esquecimento catastrófico” — o fenômeno em que memórias antigas são distorcidas ou substituídas por novas. Segue aqui a resenha do artigo para você começar o ano com muito conhecimento científico.

Veja que legal, pesquisadores descobriram que, em camundongos, o cérebro organiza o processamento de memórias antigas e novas em diferentes fases do sono, evitando que se misturem. Caso esse mecanismo seja confirmado em outras espécies, György Buzsáki, neurocientista de sistemas da Universidade de Nova York, acredita que essa separação também ocorre em humanos. Buzsáki não participou do estudo, mas acredita que a memória, sendo um sistema evolutivamente antigo, o funcionamento em humanos e camundongos seja bastante semelhante.

Durante o sono, o cérebro “revisa” experiências recentes: os mesmos neurônios ativados durante a vivência são disparados novamente na mesma sequência. Esse processo contribui para consolidar as experiências como memórias e prepará-las para o armazenamento a longo prazo.

Para investigar a função cerebral durante o sono, os pesquisadores aproveitaram uma característica observada em camundongos: seus olhos permanecem parcialmente abertos em determinados estágios do sono. A equipe monitorou um dos olhos de cada camundongo enquanto dormiam e, durante uma fase profunda, notou que as pupilas se contraíam e retornavam ao tamanho original repetidamente, em ciclos de cerca de um minuto. As gravações neuronais indicaram que a maior parte da reprodução das experiências pelo cérebro ocorria quando as pupilas estavam contraídas.

A equipe também descobriu, por meio de outros experimentos, que a fase do sono em que as pupilas estão dilatadas desempenha um papel específico: ela auxilia no processamento de memórias já consolidadas. No caso dos camundongos, isso se refere a memórias formadas nos dias anteriores à soneca, e não às experiências do mesmo dia.

“O cérebro preservava as memórias mais antigas durante a fase de pupilas dilatadas, enquanto integrava novas memórias na fase de pupilas contraídas”, explica Azahara Oliva, coautor do estudo e físico da Universidade Cornell. Esse mecanismo em duas etapas representa “uma solução potencial para o desafio de como o cérebro incorpora novos conhecimentos sem comprometer as memórias já existentes”.

Maksim Bazhenov, neurocientista de sistemas da Universidade da Califórnia, San Diego, que não participou do estudo, destaca a importância da descoberta. Segundo ele, o trabalho mostra que o processamento de memórias antigas e novas ocorre de maneira temporalmente separada, evitando a interferência que poderia surgir se esses processos estivessem misturados.

O problema do “esquecimento catastrófico” não é exclusivo do cérebro humano; ele também afeta redes neurais artificiais, algoritmos inspirados no cérebro e amplamente utilizados em ferramentas de inteligência artificial (IA). Compreender como o cérebro resolve esse problema pode oferecer ideias para desenvolver algoritmos mais eficazes, capazes de evitar esse tipo de falha em modelos de IA, observa Wenbo Tang.

Quer ler o artigo original? Segue o link  https://www.nature.com/articles/d41586-024-04232-1

Ficou interessado em conhecer mais sobre “A microestrutura do sono organiza a repetição da memória” e o que a pupila nos revela sobre as fases do sono? Envie um comentário para gente solicitando a resenha que em breve faremos para você.

Tem sugestão de algum tema que deseja ver abordado aqui no nosso blog? Envie nos comentários que providenciaremos para você….

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