Todos sabemos que tomar pelo menos 2 litros de água por dia é vital, mas você sabia que a água pode conter muito mais que água? Continua aqui comigo que eu te explico…
Não é de hoje que sabemos que a poluição plástica é uma catástrofe mundial. A decomposição dos materiais plásticos pode levar 500 anos, por isso ambientalistas sugerem que a solução mais sustentável para o plástico é sua reciclagem.
É assustador sabem que a maior parte dos plásticos são descartados pelos consumidores após uma única utilização, ajudando aterros, oceanos e outros cursos d’água costumam ser seu destino final. Estes plásticos são descartados em grande número todos os dias, e a decomposição dos plásticos em tamanhos micro e nano levou a preocupações sobre o quão tóxicos estes plásticos são para o ambiente e para os seres humanos.
Embora existam vários estudos anteriores que relataram os efeitos dos micro e nanoplásticos no meio ambiente, há poucas pesquisas sobre o seu impacto no corpo humano em níveis subcelulares ou moleculares.
Em particular, o potencial de como os nanoplásticos se movem através do intestino, dos pulmões e dos epitélios da pele para causar exposição sistémica não foi examinado minuciosamente. Entretanto, a detecção de nanoplásticos representa um desafio analítico considerável, tanto em termos de sensibilidade em nível nano quanto na especificidade de identificação do tipo de plástico, gerando uma lacuna de conhecimento em relação a esse mundo nano misterioso que nos cerca.
Para superar esses desafios, Qian e colaboradores (2024) da Universidade da Califórnia desenvolveram uma plataforma de imagem de espalhamento Raman estimulado hiperespectral (SRS) com um algoritmo automatizado de identificação de plástico. Essa abordagem permite a análise de micro-nanoplásticos em nível de partícula única, proporcionando alta especificidade química e eficiência.
Inicialmente, validaram o aumento da sensibilidade da banda estreita do SRS, possibilitando a detecção eficiente de nanoplásticos individuais com diâmetro abaixo de 100 nm. Em seguida, implementaram um algoritmo de correspondência espectral baseado em dados para enfrentar os desafios de identificação espectral apresentados por imagens hiperespectrais sensíveis de banda estreita, resultando em uma determinação robusta dos polímeros plásticos comuns.
Com a técnica estabelecida, conduziram um estudo sobre micro-nanoplásticos em água engarrafada, utilizando-a como sistema modelo.
Os cientistas tiveram sucesso na detecção e identificação de nanoplásticos dos principais tipos de plástico, estimando a concentrações de micro-nanoplásticos entre 110.000 e 370.000, com média de 240.000 partículas por litro de água engarrafada, sendo cerca de 90% dessas partículas classificadas como nanoplásticos. Essa cifra é consideravelmente maior do que as abundâncias de microplásticos anteriormente relatadas na água engarrafada.
A contagem de partículas únicas de alto rendimento revelou uma notável heterogeneidade de partículas e uma não ortogonalidade entre a composição plástica e as morfologias, lançando luz sobre a complexidade da ciência dos nanoplásticos.
Vamos voltar à garrafa d´água? Várias são as formas que os serem humanos ingerem as partículas de nanoplásticos, dentre elas através da ingestão oral. Explico: a ampla utilização de componentes plásticos em sistemas de abastecimento de água potável, juntamente com a possível lixiviação de microplásticos ou nanoplásticos provenientes de tubulações sob a constante pressão fluida a longo prazo, resulta em uma considerável exposição dos consumidores de água potável a quantidades significativas de plásticos.
Um estudo prévio indicou que os seres humanos ingerem centenas de milhões de partículas nanoplásticas em uma única xícara de bebida proveniente de saquinhos de chá. A detecção de nanoplásticos em frutos do mar e mesmo em sais de cozinha destaca a exposição humana a níveis elevados de plásticos. Os nanoplásticos, inicialmente absorvidos por organismos de níveis mais baixos na cadeia alimentar, são subsequentemente ingeridos por organismos de níveis superiores e, por fim, pelos seres humanos, impactando a saúde humana por meio da bioacumulação. Isso sugere que os nanoplásticos penetram nos sistemas humanos por meio da ingestão de água potável e do consumo de materiais expostos a esses nanoplásticos.
É imperativo conduzir estudos para avaliar os níveis de nanoplásticos na água potável e nos alimentos, além de desenvolver abordagens de detecção eficazes.
Além da água, o ser humano recebe nanoplásticos através da, inalação de ar tóxicos provenientes da precipitação atmosférica, do desgaste de pneus liberado nas ruas, exposição dérmica.
Em humanos, os nanoplásticos infiltram-se nos organismos vivos, transpondo barreiras biológicas e sendo transmitidos para suas gerações descendentes. Dentro dos organismos, os nanoplásticos são excretados em concentrações muito baixas, resultando em acumulação ao longo do tempo. A pesquisa ainda não explorou totalmente os efeitos adversos dos nanoplásticos na saúde humana. As descobertas atuais derivam principalmente de estudos de nanotoxicologia envolvendo nanopoliestireno e estão resumidas a seguir.
Estudos in vitro e in vivo indicam que microplásticos ou nanoplásticos absorvidos pelo corpo humano se acumulam no lúmen intestinal, com algumas dessas partículas plásticas sendo excretadas nas fezes.
Experimentos com animais sugerem que as nanopartículas distribuídas no lúmen intestinal podem penetrar na barreira intestinal, se trans locando para os vasos sanguíneos. O alvéolo, uma parte vital da membrana alvéolo capilar nos pulmões, com poros relativamente maiores para a troca gasosa, sugere que os nanoplásticos inalados podem atravessar essa barreira e entrar na corrente sanguínea.
Além disso, os nanoplásticos têm a capacidade de ultrapassar a barreira hematoencefálica após injeção intravascular, acumulando-se no cérebro. Estudos sobre nanoplásticos provenientes da cadeia alimentar mostraram que esses materiais podem atravessar a barreira hematoencefálica, causando danos cerebrais em peixes. Um estudo usando um modelo de perfusão placentária humana revelou que esses materiais podem atravessar a barreira placentária por meio de difusão passiva.
Essas descobertas indicam que os nanoplásticos têm a capacidade de penetrar em barreiras biológicas cruciais, como a barreira intestinal, a barreira hemato-aérea, a barreira hematoencefálica e a barreira placentária, representando potenciais efeitos adversos para os seres humanos.
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