A influência do feedback auditivo na coordenação em tempo real dos movimentos da fala
Em estudo realizado publicado em setembro de 2024 no The Journal of the Acoustical Society of America, os pesquisadores Mattews Masapollo e Susan Nittrouer demostraram que o feedback auditivo imediato regula a coordenação da fala inter-articulatória a serviço da estrutura fonética.
Segundo os pesquisadores, durante a produção habilidosa da fala, conjuntos de articuladores que se movem independentemente, como a língua e a mandíbula ou os lábios e a mandíbula, trabalham cooperativamente para atingir constrições-alvo em vários locais ao longo do trato vocal.
Por exemplo, durante a produção dos sons “t” e “d”, a ponta da língua deve se elevar e formar uma constrição firme contra a crista alveolar do palato (a área óssea atrás dos dentes frontais superiores). Para atingir essa constrição alvo, a mandíbula e a língua trabalham em conjunto para elevar a ponta da língua até o palato. Pessoas com deficiência auditiva apresentam déficits na capacidade de controlar esses tipos de movimentos coordenados de maneira precisa e consistente, sugerindo que a coreografia no trato vocal durante a fala depende da entrada auditiva.
No estudo os pesquisadores usaram uma técnica chamada articulografia eletromagnética (AEM) para registrar e rastrear os movimentos da mandíbula e da ponta da língua durante a produção dos sons “t” e “d” quando o feedback auditivo sobre a própria fala era e não era audível (com e sem mascaramento auditivo).
Os participantes produziram uma variedade de enunciados contendo os sons “t” ou “d” alvo em diferentes taxas de fala e durante as duas condições de escuta. Durante a condição de mascaramento, os participantes ouviram o balbucio de vários falantes através de fones de ouvido inseridos a 90 decibels de nível de pressão sonora (dBNPS), o que tornou sua própria fala inaudível. O som mascarador foi apresentado em uma escala de tempo muito restrita — apenas alguns segundos enquanto os participantes produziam um dado enunciado.
Os autores descobriram que, durante o mascaramento, a coordenação temporal entre a língua e a mandíbula era menos precisa e mais variável. Este é o primeiro estudo a examinar diretamente o papel da entrada auditiva na coordenação em tempo real dos movimentos da fala.
Os resultados são consistentes com a teoria de que as pessoas dependem de informações auditivas para coordenar o controle motor do trato vocal a serviço da produção da fala e abrem muitas questões novas e extremamente importantes sobre pessoas com déficits auditivos congênitos.
A entrada auditiva degradada a longo prazo que ocorre com a perda auditiva congênita é, sem dúvida, muitas ordens de magnitude maior do que a breve manipulação de mascaramento realizada nesta situação de laboratório. Os autores teorizaram que, em comparação com pessoas com audição típica, pessoas que usam implantes cocleares dependerão mais de como sua boca e língua se sentem, em relação às informações auditivas, para controlar os movimentos da fala. Isso ocorre porque o sinal acústico disponível por meio de implantes cocleares pode ser degradado.
Atualmente, AEM está sendo utilizado para testar essa hipótese, onde obtiveram medidas de AEM quando os falantes falam com seus processadores de fala IC ligados em vez de desligados.
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