Apraxia de fala na infância
A Apraxia de Fala na Infância (AFI) é um transtorno neurológico que afeta a precisão e a consistência dos movimentos necessários à fala, sem a presença de déficits neuromusculares. Caracteriza-se por falhas no planejamento e na programação dos movimentos articulatórios, resultando em erros de produção e alterações prosódicas. O diagnóstico depende de uma avaliação clínica criteriosa, realizada por fonoaudiólogos especializados, uma vez que ainda não há marcadores genéticos ou neurológicos específicos. A identificação precoce e a intervenção adequada são essenciais para minimizar os impactos na comunicação e no desenvolvimento da linguagem.
As crianças com AFI apresentam fala inconsistente, dificuldade na coarticulação, entonação monótona, pausas entre sílabas e inventário fonético limitado. Geralmente, a linguagem receptiva é mais desenvolvida do que a expressiva, e o transtorno pode ocorrer isoladamente ou associado a condições como Transtorno do Espectro Autista e Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem. A ASHA recomenda que o diagnóstico formal seja feito a partir dos três anos, embora sinais de risco possam ser observados antes dessa idade, como ausência de balbucio e fala reduzida.
A avaliação fonoaudiológica deve ser abrangente, contemplando anamnese detalhada, exame oral e análise da fala espontânea e por imitação. Instrumentos como o Verbal Motor Production Assessment for Children (VMPAC), o Kaufman Speech Praxis Test for Children (KSPT) e o Dynamic Evaluation of Motor Speech Skill (DEMSS) auxiliam na diferenciação entre atraso motor de fala e AFI. Além das ferramentas formais, é importante incluir tarefas informais e observação clínica das produções orais, considerando aspectos motores, fonológicos e prosódicos.
A intervenção baseia-se nos princípios da aprendizagem motora, com ênfase na prática intensiva, feedback multissensorial e motivação da criança. Programas terapêuticos como DTTC, ReST, NDP3® e PROMPT® aplicam estratégias táteis, visuais e auditivas para aprimorar o planejamento e a coordenação dos movimentos da fala. O tratamento deve ser individualizado e progressivo, com retirada gradual das pistas até que a criança alcance autonomia comunicativa. A atuação interdisciplinar e o envolvimento familiar são fundamentais para favorecer a generalização das habilidades e a evolução clínica.











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