Assim como quem casa quer casa, quando se tem gripe o corpo quer cama. Já pararam para pensar o porquê a gripe derruba mesmo as pessoas mais ativas? Por que comilões perdem o apetite? Agora a ciência nos deu uma resposta. Bin e col. (2023) identificaram os neurônios de camundongos que fazem a notificação central da infecção por gripe, levando a uma consequente diminuição de movimento, sede e fome.
Assim como a infecção por influenza causa sintomas fisiológicos, infecções por outros patógenos causam respostas comportamentais, como por exemplo, infecções intestinais induzem náusea, diarreia e vômito, enquanto que infecções respiratórias induzem tosse, congestão e bronco constrição.
Algumas respostas comportamentais exibidas por animais infectados por patógenos são comuns, como febre, letargia, inapetência, dor de cabeça, alterações de humor e diminuição da socialização, apontando para a existência de circuitos neuronais compartilhados. A recuperação é o objetivo final do mal-estar do paciente infectado e é uma estratégia altamente qualificada, coordenada e adaptativa. A comunicação corpo-cérebro conta com múltiplas vias de comunicação e pode ser constatada pelas respostas comportamentais específicas para infecções causadas por diferentes patógenos.
Até esse momento acreditava-se que uma espécie de molécula mensageira se movia para o cérebro, via corrente sanguínea, iniciando assim as respostas comportamentais doentias.
Os pesquisadores descobriram que um receptor específico de prostaglandina chamado EP3 é o grande responsável. O EP3 pode ser encontrado em todo o corpo, incluindo o SNC. Segundo os autores, os principais agentes são uma população específica de neurônios contendo EP3 localizada no pescoço do camundongo. Nos camundongos, esses neurônios têm ramificações que se estendem desde a amígdala até o tronco cerebral. Na-Ryum Bin, neurobiólogo coautor da pesquisa, explica que essa localização faz sentido, uma vez que a área da amígdala “serve como interface entre o ar externo e o que entra nas vias aéreas”. Essa região é rica em células imunológicas que produzem prostaglandinas quando encontram patógenos.
O resultado da pesquisa nos traduz uma autoestrada da doença: o vírus da gripe entra nas vias aéreas e causa infecção na garganta, provocando, dessa maneira, a produção de prostaglandinas provocando uma resposta neuronal. O alerta de infecção acionado viaja ao longo das ramificações dos neurônios em uma rodovia dedicada ao cérebro. A informação levada ao cérebro é altamente específica e geolocalizada, dizendo, exatamente, qual é o local da lesão. Os autores alertaram que existem outros tipos de neurônios que possuem receptores para prostaglandinas e outros sinais relacionados ao sistema imunológico, sugerindo a existência de outros caminhos dedicados, como os para detectar infecções intestinais, desencadeando náusea.
Nem tudo está resolvido, já que esse mecanismo explica somente o estágio 1 da gripe, quando ela atinge as vias aéreas superiores e que tem duração de mais ou menos 1 semana. A evolução da doença para as vias respiratórias inferiores utiliza outra via nervosa como condutora dos comportamentos da doença. Se os cientistas descobrirem o segundo caminho eles poderão bloqueá-lo, evitando, assim, a evolução da doença e levando a um impacto clínico gigantesco.
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