Cutucar o nariz pode aumentar o risco de doença de Alzheimer?

cutucar nariz

Escrito por Sigla Educacional

23 de março de 2023

Já sabíamos que cutucar o nariz, além de nojento, pode causar alguns problemas de saúde, já que o nariz guarda muitas outras coisas além de meleca. Diariamente, fazemos 22 mil ciclos respiratórios e a meleca e o muco do nariz irão atuar como uma espécie de filtro natural ou biológico, “prendendo” os germes, poeira e alérgenos antes que eles penetrem nas vias aéreas superiores e inferiores, que podem levar à quadros clínicos mais complexos. Portanto, cutucar o nariz pode causar doenças virais simples como resfriados ou gripes até doenças mais agressivas causadas por outros microrganismos, como pneumonia.

cutucar nariz 2Cutucar o nariz também pode causar lesões físicas no nariz, já que a mucosa da cavidade nasal é bastante frágil. As cutucadas frequentes no nariz podem traumatizar a mucosa nasal causando hemorragias ou pode se tornar o ponto de partida para uma infecção. Segundo o Dr Cristen Cusumano, médico otorrinolaringologista da ENT and Allergy Associates em Nova Jersey, os arranhões ou traumas repetidos podem, com o tempo, começar a afetar o formato do nariz resultado da formação de tecido cicatricial ou mesmo à obstrução da via aérea nasal.

Mas não para por ai, um estudo realizado por Chaco et al, 2022 demonstrou a rápida invasão dos nervos olfatório e trigêmeo, o bulbo olfatório e do cérebro por C pneumoniae em camundongos. Demonstraram ainda que a lesão do epitélio nasal levou ao aumento da carga bacteriana nos nervos periféricos e no bulbo olfatório, mas não aumentou a carga bacteriana do resto do cérebro durante o período do estudo. A infecção por C. pneumoniae levou à desregulação de vias-chave envolvidas na patogênese da doença de Alzheimer 28 dias após a inoculação intranasal.

Portanto, existe a hipótese que a Chlamydia pneumoniae, um patógeno do trato respiratório pode, também, infectar o sistema nervoso central e levar a um quadro de demência de início tardio. Estudos de Balin et al (1998) e Schumacher et al (1999) relataram a presença de C. pneumoniae em cérebros post-mortem de pacientes com demência de início tardio. Foi demonstrado que 90% dos cérebros de pacientes pós-morte continham DNA de C. pneumoniae em comparação com apenas 5% dos cérebros de controle da mesma idade. Estudos mais recentes, Gerald et al (2006) encontraram a presença de DNA de C. pneumoniae em 80% dos cérebros de pacientes com demência tardia, em comparação com 11% dos cérebros de controle.

Para além do C. pneumoniae ser um fator contribuinte para a neurodegeneração, essa bactéria pode infectar o cérebro e potencialmente contribuir para patologias crônicas do SNC. Os cientistas aventam duas hipóteses do mecanismo de chegada do patógeno ao SNC.

Uma das hipóteses é que a C. pneumoniae pode infectar os macrófagos pulmonares que migram através da barreira mucosa e entram no sangue. A bactéria pode se disseminar para a vasculatura sobrevivendo intracelularmente em monócitos sanguíneos, que podem, então, atravessar a barreira hematoencefálica.

A outra via aventada é que os nervos que se estendem entre a cavidade nasal e o cérebro, os nervos olfatório e trigêmeo, possam ser uma via de infecção do SNC por alguns agentes infecciosos. Esses dois nervos se conectam com o cérebro no bulbo olfativo e no tronco cerebral, respectivamente, e são o bulbo olfativo, o córtex entorrinal [1]e a formação do hipocampo (todas as estruturas olfativas), bem como o tronco cerebral, as regiões do SNC que exibem os primeiros sinais de patologia tanto na demência de início tardio quanto na doença de Alzheimer familiar.

[1] É a área onde a memória se consolida. Estudos recentes demonstraram que a estimulação dessa área promove a neurogênese e a melhora da memória espacial. É nesse local que os primeiros indícios da doença de Alzheimer podem ser vistos no córtex entorrinal.

www.siglaeducacional.com.br

Você pode gostar também

Esclerose múltipla

Esclerose múltipla

Esclerose múltipla, tudo o que você precisa saber Recentemente, a modelo e apresentadora Carol Ribeiro revelou que foi diagnosticada com esclerose múltipla, doença crônica que atinge o Sistema Nervoso Central. Segundo Carol, os sintomas incluíram falhas ao caminhar,...

ler mais
O sabemos sobre a mente dos bebês?

O sabemos sobre a mente dos bebês?

O que você sabe sobre a mente dos bebês? Quer saber o que a ciência já descobriu? Faço aqui uma resenha do artigo de autoria de Caroline Campos Rodrigues da Silva e Maria Regina Maluf “O que sabemos sobre a mente dos bebês? Uma revisão de literatura” publicado em 2024...

ler mais
Testes realizados por smartphones são confiáveis?

Testes realizados por smartphones são confiáveis?

Testes realizados por smartphones são confiáveis? Você já deve ter ouvido falar que alguns smartphones estão realizando a audiometria tonal liminar e deve ter se perguntado o quão confiável são os resultados. Não se sintam só, vários pesquisadores fizeram a mesma...

ler mais
Treinamento auditivo-cognitivo imersivo e envelhecimento

Treinamento auditivo-cognitivo imersivo e envelhecimento

O treinamento auditivo-cognitivo imersivo melhora a percepção da fala no ruído em adultos mais velhos com audição e memória de trabalho variadas O envelhecimento traz mudanças na sensibilidade auditiva, resultando em maior prevalência de perda auditiva de alta...

ler mais
A menopausa e o cérebro

A menopausa e o cérebro

A menopausa e o cérebro, o que diz a ciência Fernanda Lima participou, recentemente, do programa Provoca, comandado por Marcelo Tas, e afirmou que a mulher perde massa cinzenta durante a menopausa. O que diz a ciência sobre isso? Antes de mais nada vamos entender o...

ler mais
Neurite Vestibular

Neurite Vestibular

Neurite Vestibular: conheça mais sobre a doença que levou Dilma Rousseff, presidente do BRICS, para o hospital A imprensa nacional e internacional divulgou a internação da atual presidente do BRICS, Dilma Rousseff, no último dia 21 de fevereiro. Segundo sua assessoria...

ler mais
Como o cérebro distingue os rostos humanos?

Como o cérebro distingue os rostos humanos?

Como o cérebro distingue os rostos humanos? Foi essa pergunta que em 1995, Nancy Kanwisher usou a Ressonância Magnética Funcional fMRI para investigar a percepção visual e descobriu uma região inferior do hemisfério direito do cérebro que respondia mais a rostos do...

ler mais

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *