Demência e proteção das células cerebrais

Escrito por Sigla Educacional

2 de outubro de 2023

Células cerebrais ligadas à proteção contra a demência

Pessoas com abundância de neurônios específicos têm maior probabilidade de escapar do declínio cognitivo, apesar de apresentarem sinais de Alzheimer no cérebro.

Dois tipos celulares cerebrais foram identificados e associados a um risco reduzido de demência em pessoas idosas, incluindo as que possuem anomalias cerebrais típicas da doença de Alzheimer.

Mas porquê tal descoberta é importante? Eu respondo, essas células poderão levar a novas maneiras de proteger estas células antes que elas morram. Ainda não está acreditando? A novidade foi publicada na revista Cell em 28 de setembro. Quer ler com seus próprios olhos? Acesse a pesquisa através do link ao final deste texto.

Vamos lembrar um pouco da teoria mais bem aceita sobre a doença de Alzheimer. Nessa teoria o acúmulo de proteínas amiloides pegajosas no cérebro é a causa da doença, uma vez que isto leva a placas de amiloide semelhantes a aglomerados, responsáveis por matar os neurônios de forma lenta, destruindo, eventualmente, a memória e a capacidade cognitiva. Essa é uma regra? Não, uma vez que nem todas as pessoas que apresentaram declínio cognitivo tinham aglomerados de amiloide e, das que apresentavam, nem todas apresentaram sintomas de Alzheimer.

Já sei que muitos de vocês devem estar estranhando a informação, com as mãos na cintura e perguntando, tá, mas como os cientistas chegaram a essa conclusão? Respondo, mais uma vez. Essa informação científica foi dada pelo neurobiólogo Hansruedi Mathys, da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh, na Pensilvânia, eelo o neurocientista Li-Huei Tsai, e pelo cientista da computação Manolis Kellis, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em Cambridge, e seus colegas decidiram investigar essa desconexão.

Para fazer isso, eles usaram dados de um grande estudo que rastreia as habilidades cognitivas e motoras de milhares de pessoas na velhice. Os pesquisadores examinaram amostras de tecidos de 427 cérebros de participantes que morreram. Alguns desses participantes apresentavam demência típica da doença de Alzheimer avançada, alguns apresentavam comprometimento cognitivo leve e os demais não apresentavam sinais de comprometimento.

demênciaOs pesquisadores isolaram células do córtex pré-frontal de cada participante, a região envolvida na função cerebral superior. Para classificar as células, eles sequenciaram todos os genes ativos de cada uma. Isso lhes permitiu criar um atlas do cérebro mostrando onde ocorrem os diferentes tipos de células.

Os cientistas identificaram dois tipos principais de células que possuíam um marcador genético específico. Um deles tinha genes ativos que codificavam a reelina, uma proteína associada a distúrbios cerebrais como a esquizofrenia, e o outro tinha genes ativos que codificavam a somatostatina, um hormônio que regula processos em todo o corpo.

Após se debruçarem sobre os achados, descobriram que as pessoas que apresentavam níveis mais elevados de comprometimento cognitivo tinham um grande número dessas células, mesmo que também tivessem grandes quantidades de amiloides no cérebro, o que normalmente denotaria Alzheimer.

A maior parte das pesquisas sobre Alzheimer concentrou-se em neurônios excitatórios, que retransmitem sinais elétricos para ativar outros neurônios. Mas os autores descobriram que as células com reelina ou somatostatina eram neurônios inibitórios, que interrompem a comunicação neuronal. Estas células inibitórias podem, portanto, ter um papel até então desconhecido nos tipos de função cognitiva que são perdidos durante a doença de Alzheimer.

Os investigadores suspeitam que as células inibitórias com reelina ou somatostatina são particularmente vulneráveis ​​à destruição na doença de Alzheimer, pelo menos em alguns indivíduos. A descoberta apoia a de um artigo publicado no início deste ano que encontrou uma mutação reelin num homem com grandes quantidades de amiloide no cérebro, mas sem sintomas de Alzheimer. Por causa disso, Tsai diz que as descobertas da equipe não foram muito surpreendentes, mas garantiram que estavam no caminho certo. “São caminhos relevantes para a doença de Alzheimer e também caminhos atenuantes.”

“É um artigo muito interessante”, diz Lea Grinberg, neurologista da Universidade da Califórnia, em São Francisco. Até agora, diz Grinberg, a maioria dos esforços para desenvolver tratamentos para a doença de Alzheimer têm-se concentrado em formas de atacar as placas amilóides no cérebro, mas os resultados mais recentes podem ajudar a identificar formas de proteger as células cerebrais vulneráveis.

A técnica de sequenciamento unicelular e o atlas resultante são “o estado da arte”, diz Jerold Chun, neurocientista do Sanford Burnham Prebys Medical Discovery Institute em La Jolla, Califórnia. Chun diz que a perda de células inibitórias poderia explicar por que as pessoas com Alzheimer são propensas a convulsões resultantes do excesso de disparos neuronais. Ele acrescenta que o atlas, que está disponível para uso de outros pesquisadores, fornecerá um ponto de partida para estudos mais abrangentes à medida que a tecnologia de sequenciamento avança. “Vai ser muito valioso.”

Leia a íntegra da pesquisa clicando aqui.

 

Veja também: https://sigla-educacional.builderallwppro.com/mais-um-para-a-conta-doenca-de-alzheimer/

 

 

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