A Atuação Fonoaudiológica nos Distúrbios Alimentares Pediátricos: Diretrizes e Princípios Fundamentais – baseado nas diretrizes do CFFa
Resumo
Os distúrbios alimentares pediátricos representam um desafio crescente na prática clínica interdisciplinar, afetando até 25% das crianças em algum momento da infância. O presente artigo aborda as principais diretrizes para a atuação fonoaudiológica nesses casos, destacando as competências, formações e abordagens terapêuticas preconizadas pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa). Fundamentado na Resolução CFFa nº 659/2022, o texto sintetiza os aspectos clínicos, educacionais e éticos que orientam o trabalho do fonoaudiólogo em contextos hospitalares, ambulatoriais e domiciliares.
O processo alimentar infantil é uma experiência biopsicossocial que envolve funções sensório-motoras, emocionais e de aprendizagem. As diretrizes publicadas pelo CFFa em 2022 reconhecem os distúrbios alimentares pediátricos (DAP) como condições multifatoriais, que exigem avaliação e manejo por uma equipe interdisciplinar composta por fonoaudiólogos, pediatras, nutricionistas, terapeutas ocupacionais e psicólogos.
Essas alterações podem ocorrer em qualquer fase da infância, sendo mais prevalentes entre seis meses e quatro anos de idade. O documento enfatiza a importância da atuação ampliada e qualificada do fonoaudiólogo na promoção de uma alimentação segura, prazerosa e funcional
A formação do fonoaudiólogo, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais (Resolução CNE/CES nº 5/2002 e nº 610/2018), deve contemplar o domínio teórico-prático sobre as funções de respiração, sucção, mastigação e deglutição.
As duas especialidades mais diretamente ligadas aos distúrbios alimentares pediátricos são:
- Motricidade Orofacial: voltada à prevenção e reabilitação das estruturas e funções orofaciais e cervicais.
- Disfagia: responsável pela avaliação e intervenção nos distúrbios de deglutição e segurança alimentar.
O documento ressalta a necessidade de formação contínua e baseada em evidências, integrando aspectos anatômicos, fisiológicos e psicossociais do processo alimentar.
O fonoaudiólogo atua em todas as fases do cuidado: prevenção, diagnóstico, intervenção e orientação familiar. Suas principais atribuições incluem:
- Avaliar as funções orais e habilidades sensório-motoras envolvidas na alimentação;
- Identificar fatores clínicos, nutricionais e psicossociais associados à recusa ou seletividade alimentar;
- Adaptar texturas, utensílios e estratégias de alimentação conforme as necessidades individuais;
- Trabalhar em conjunto com a equipe médica na definição de vias alternativas de alimentação e no desmame de sondas;
- Promover educação alimentar responsiva e acolhedora junto às famílias.
A atuação deve priorizar o respeito à individualidade da criança, à sua história médica e às experiências emocionais relacionadas à alimentação.
O documento define um conjunto de competências essenciais ao fonoaudiólogo que atua nessa área:
- Conhecimento aprofundado da anatomia e fisiologia da alimentação e da deglutição;
- Reconhecimento de diagnósticos médicos complexos e seus impactos no ato alimentar;
- Capacidade de realizar avaliação clínica e instrumental (videofluoroscopia e videoendoscopia da deglutição);
- Desenvolvimento de intervenções terapêuticas específicas e seguras;
- Habilidade para orientar pais e cuidadores sobre práticas alimentares adequadas e responsivas.
Além disso, enfatiza-se o papel do profissional na promoção de experiências alimentares positivas, reduzindo o estresse e fortalecendo os vínculos familiares.
As diretrizes ressaltam que o fonoaudiólogo deve atuar dentro de seus limites de competência e formação, conforme o Código de Ética da Fonoaudiologia, sendo vedada a execução de procedimentos sem capacitação adequada. O desenvolvimento profissional deve incluir atualização científica contínua, participação em cursos de especialização e trabalho em rede com outros profissionais da saúde.
As Diretrizes sobre a Atuação Fonoaudiológica nos Distúrbios Alimentares Pediátricos constituem um marco regulatório e formativo para a prática clínica no Brasil. Elas ampliam o papel do fonoaudiólogo na equipe multidisciplinar, reforçando a importância da abordagem integrativa e centrada na criança e na família. O documento destaca que comer é mais do que uma função biológica — é uma experiência de interação, afeto e aprendizado, que deve ser conduzida com responsabilidade, empatia e base científica.
Referência principal:
Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa). Diretrizes sobre a Atuação Fonoaudiológica nos Distúrbios Alimentares Pediátricos. Resolução CFFa nº 659, de 30 de março de 2022. Publicada no DOU em 12 de abril de 2022.











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