Fábrica de mosquitos para combater a dengue

mosquitos 1

Escrito por Sigla Educacional

19 de abril de 2023

Se você ainda pensa que inseticidas e fumacês são a melhor estratégia para matar mosquitos leia esse artigo e diga adeus a sua bombinha de “Detefon” e ao seu sonho de um dia dirigir o carro do fumacê. Uma fábrica de mosquitos contaminados pela bactéria Wolbachia será instalada no Brasil em local ainda a ser definido e tem como objetivo suprir a ambiciosa tentativa da Worl Mosquito Program (WMP), em parceria com o Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de produzir até cinco bilhões de mosquitos infectados pela bactéria anualmente.

mosquitosCalma, eu explico. A WMP quer liberar mosquitos modificados em várias áreas urbanas do Brasil durante a próxima década, protegendo mais de 70 milhões de pessoas de doenças que tenham como vetor o mosquito, como a dengue. Os cientistas responsáveis pela pesquisa afirmam que a liberação dos mosquitos infectados pela bactéria impede que o inseto transmita o vírus.

O objetivo é que a fábrica inicie suas operações em 2024 e deverá ser a maior instalação no mundo. Segundo Scorr O’Neill, microbiologista da Monash University em Melbourne, Austrália e chefe da WMP, a fábrica instalada em terras brasileiras permitirá, em um curto espaço de tempo, cobrir mais pessoas do que qualquer outro pais. É importante destacar que o Brasil foi campeão em casos de dengue no ano de 2022, computando dois milhões de casos.

Mas o que essa bactéria tem de tão interessante? Vamos lá. A bactéria Wolbachia pipientis infecta de forma natural cerca de metade de todas as espécies de insetos, mas os mosquitos Aedes aegypti, transmissores da dengue, zika, Chikungunya e outras doenças virais não carregam a bactéria.

Aí está o pulo do gato da descoberta: O’Neill e seus colaboradores da WMP descobriram que o Aedes aegypti infectado pela Wolbachia tem muito menos probabilidade de espalhar doenças, uma vez que a bactéria supera os vírus que o inseto carrega. Para tornar esse “carregamento” epidêmico entre os mosquitos basta liberar os mosquitos modificados em áreas infestadas pelo Aedes aegypti selvagem, assim, lentamente, eles espalham a bactéria para a população de mosquitos selvagens. Agora me conte se isso não é simplesmente genial!

Já sei que está se questionando se, de fato, isso funciona. A resposta é sim e pode ser comprovada por vários estudos, sendo que o mais robusto e abrangente foi um randomizado e controlado em Yoguakarta, na Indonésia, que mostrou que a tecnologia poderia reduzir a incidência de dengue em, pasmem, 77%. E no Brasil, temos dados também. Os mosquitos foram testados em cinco cidades, porém os resultados foram mais modestos. Em Niterói, cidade que participou do estudo, a intervenção foi associada a uma redução de 69% dos casos de dengue. No Rio de Janeiro, a redução foi de 38%.

A pergunta que você deve estar se fazendo é, mas o que explica diferenças tão expressivas? Mais uma vez, explico. Segundo os pesquisadores, a variação pode estar relacionada a diferenças ambientais entre as cidades, áreas com maior população de mosquitos silvestres a Wolbachia pode demorar mais para se espalhar.

Socialmente, a explicação também é bastante importante. No Rio de Janeiro, surtos de violência dificultam a mobilização em alguns bairros, por exemplo. Embora tenham sido feitos trabalhos com as pessoas moradoras das comunidades, o trabalho pode ser lento para construir a confiança e ser capaz de operacionalizar os planos de ação.

Um estudo randomizado e controlado está acontecendo em Belo Horizonte. Em breve teremos novidades.

Veja também: https://sigla-educacional.builderallwppro.com/participante-de-programa-morre-de-dengue-hemorragica/

Você pode gostar também

A Ciência por trás da Voz

A Ciência por trás da Voz

A Ciência por Trás da Voz: Como a Prosódia Revela Nossas Emoções no Português Brasileiro Você já reparou como o tom da sua voz muda quando você está feliz, com raiva ou triste? A relação entre voz e linguagem representa uma das manifestações mais complexas da...

ler mais
Apraxia de fala na infância

Apraxia de fala na infância

Apraxia de fala na infância A Apraxia de Fala na Infância (AFI) é um transtorno neurológico que afeta a precisão e a consistência dos movimentos necessários à fala, sem a presença de déficits neuromusculares. Caracteriza-se por falhas no planejamento e na programação...

ler mais
Impacto da Doença Renal Crônica na Audição e no Equilíbrio

Impacto da Doença Renal Crônica na Audição e no Equilíbrio

Impacto da Doença Renal Crônica (DRC) na Audição e no Equilíbrio: Evidências Clínicas A relação entre doenças renais e alterações dos sistemas auditivo e vestibular tem recebido atenção crescente na literatura científica e nos relatórios de saúde pública nos últimos...

ler mais
Sensibilidade auditiva humana moldada pelo sexo e ambiente

Sensibilidade auditiva humana moldada pelo sexo e ambiente

Entre o som e o mundo: como sexo e ambiente moldam a sensibilidade auditiva humana O artigo intitulado “Sex and environment shape cochlear sensitivity in human populations worldwide”, publicado na revista Scientific Reports em março de 2025 por Balaresque e...

ler mais

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *