O córtex pré-frontal e seu risco durante o envelhecimento
Durante a evolução “ganhamos” o córtex pré-frontal, mas ele está em maior risco durante o envelhecimento. O grande córtex pré-frontal, que nos proporciona vantagens evolutivas e cognitivas em relação aos primatas não humanos, vem com um custo.
Ao longo de mais de seis milhões de anos desde que humanos e chimpanzés se separaram de um ancestral comum, os cérebros humanos desenvolveram rapidamente áreas que facilitam a tomada de decisões e o autocontrole. No entanto, essas mesmas regiões são as mais vulneráveis à deterioração com o envelhecimento, revela um estudo que comparou imagens cerebrais de chimpanzés com exames de cérebros humanos.
A teoria do “último a entrar, primeiro a sair”, diz que as regiões cerebrais do humano que são as últimas a se desenvolver, tal qual a parte frontal, são as últimas a amadurecerem e as primeiras a mostrar que estão envelhecendo. Estudos recentes demonstram que, além dessas regiões serem de amadurecimento tardio, elas também são as de evolução mais recente.
Os achados aparentemente confirmam a “importante hipótese de que a expansão do nosso córtex cerebral veio ao custo do declínio relacionado à idade”, afirma Rogier Mars, neurocientista da Universidade de Oxford, Reino Unido. Os resultados encontram-se na revista Science Advances em 28 de agosto.
Pesquisadores criaram mapas comparando cérebros humanos e de chimpanzés usando ressonância magnética (MRI). Analisaram 189 chimpanzés entre 9 e 50 anos e 480 humanos entre 20 e 74 anos. Descobriram que ambos os cérebros são geralmente simétricos e compartilham estruturas anatômicas semelhantes, especialmente no córtex pré-frontal, responsável por funções cognitivas complexas.
Ao medir a redução de massa cinzenta, indicativa de envelhecimento, observaram que humanos apresentam maiores declínios no córtex frontal, incluindo o pré-frontal, enquanto chimpanzés têm maiores perdas no estriado, relacionado a hábitos e recompensas. Regiões envolvidas em processamento visual e habilidades motoras foram menos afetadas pelo envelhecimento em ambas as espécies.
Os pesquisadores avaliaram quais regiões do cérebro humano se expandiram mais em comparação com o cérebro dos chimpanzés, analisando exames de indivíduos de idade e sexo semelhantes. Eles descobriram que o córtex pré-frontal, uma das áreas mais vulneráveis ao envelhecimento, foi a que mais cresceu evolutivamente. A ínsula, envolvida no processamento de emoções e sinais corporais, também mostrou rápido crescimento evolutivo e maior risco de deterioração com a idade.
Hoffstaedter observa que as mudanças evolutivas mais recentes e significativas são justamente onde o envelhecimento é mais acentuado.
Ao comparar chimpanzés com babuínos-oliva e macacos rhesus, não foi encontrada a mesma correlação entre rápida expansão evolutiva e envelhecimento, sugerindo que essa característica pode ser exclusiva do cérebro humano. Mars sugere que futuros estudos explorem não apenas o declínio da substância cinzenta, mas também as mudanças nas conexões cerebrais e nos perfis de expressão genética relacionadas à idade.
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