Participante de programa morre de dengue hemorrágica

dengue 1

Escrito por Sigla Educacional

28 de março de 2023

Participante de programa dominical morre de dengue hemorrágica

No programa dominical Domingão do Huck de 26 de março de 2023, no quadro The Wall[1], a história belíssima do casal participante causou emoção aos telespectadores. Jhonatan Wiliantan da Silva e Daniel Rocha Braz, pais de cinco irmãos adotados, tinham o sonho de comprar uma casa e um carro de sete lugares, para caber toda família. Conquistaram 73 mil reais, que possibilitou a compra do sonhado carro. Tão logo a exibição da gravação terminou uma notícia triste chocou o público: no dia 04 de março Jhonatan veio a óbito e a causa foi dengue hemorrágica, pouco tempo depois da participação no programa.

dengueA Dengue é uma infecção de origem viral causada por um arbovírus[2] e é transmitida aos seres humanos através da picada de mosquitos infectados. Cerca de 100 a 400 milhões de infecções ocorrem anualmente, sendo que metade da população mundial está em risco de contraí-la.
Climas tropicais e subtropicais são os locais de prevalência da dengue, sobretudo em áreas urbanas e semiurbanas. É de conhecimento público que o controle da dengue se dá pelo controle do vetor, ou seja, do mosquito transmissor.

O quadro do paciente infectado por ser assintomático ou com sintomas leves, entretanto, pode haver casos mais graves e até a morte. Os sintomas costumam aparecer de 4 a 10 dias após a infecção e incluem febre alta, dor de cabeça severa, dor atrás dos olhos, dores musculares e articulares, náuseas, vômitos, glândulas inchadas, erupções cutâneas e alguns poucos pacientes podem apresentar hemorragias discretas na boca, urina e/ou nariz, com melhora em 1 a 2 semanas (Organização Mundial da Saúde, 2022).

A dengue hemorrágica é a forma grave da doença. Os sintomas iniciais são iguais aos da dengue clássica, contudo, após o quinto dia da doença, alguns pacientes começam a apresentar sangramento e choque. Os sangramentos são generalizados, atingindo vários órgãos podendo ser fatal. O tratamento deve ser iniciado tão logo o diagnóstico tenha sido efetivado.

De acordo com a Secretaria de Saúde do Amazonas, existem quatro tipos de vírus da dengue, a saber: o DEN-1, o DEN-2, o DEN-3 e o DEN 4. Eles causam os mesmos sintomas e a pessoa só pega um tipo de vírus na vida, isto é, não poderá ser infectado pelo mesmo tipo de vírus em um novo episódio da doença. São quatro versões de um mesmo tipo de vírus, sendo que, clinicamente, são absolutamente iguais e geram os mesmos sintomas. Quanto mais vírus existirem, maior será a probabilidade de haver uma infecção, isso quer dizer que se só existisse um tipo de vírus ninguém teria dengue duas vezes na vida.

Os critérios da Organização Mundial da Saúde para o diagnóstico clínico da dengue hemorrágica requerem a presença de febre aguda e contínua de 2 a 7 dias, manifestações hemorrágicas associadas a trombocitopenia e hemoconcentração. As manifestações hemorrágicas podem ser mucosas e/ou cutâneas ou mesmo uma prova do laço positiva que é a mais comum. A hepatomegalia ocorre em algum estágio da dengue hemorrágica e, geralmente, precede o vazamento de plasma, sendo, portanto, um valioso preditor precoce de vazamento de plasma.

Segundo Wills et al (2005), o vazamento de plasma e a coagulopatia são as alterações patológicas fundamentais responsáveis pelas manifestações clínicas, morbilidade e mortalidade. Uma interação complexa entre mecanismos imunológicos com fatores virais e do hospedeiro está implicada na patogênese. Ambos os mecanismos imunológicos, humoral e mediado por células, eventualmente, resultam na liberação de citocinas responsáveis por alterações na permeabilidade microvascular seletiva e no vazamento de plasma resultante. O vazamento de plasma progride rápida ou lentamente para cessar completa e previsivelmente após a 48 horas do início, levando a possibilidade da existência de alteração funcional subjacente em vez de dano estrutura e inflamação na vasculatura.

Os dois atributos patológicos fundamentais na dengue hemorrágica são vazamento de plasma e coagulopatia intrínseca (WILLS et al, 2004).

O equilíbrio das pressões hidrostática e oncótica é importante no vazamento de plasma. No entanto, o glicocálice também desempenha um papel crucial nos fluxos de fluidos. A permeação de fibrinogênio além da albumina em sua matriz, bem como a liberação de sulfato de heparan de sua superfície em escova, impacta tanto o vazamento de plasma quanto a coagulopatia intrínseca. O reconhecimento do papel dos marcadores biológicos nesses mecanismos patogênicos pode ter implicações diagnósticas e terapêuticas de longo alcance (KURANE e ENNIS, 1994; GREEN et al, 1999).

Para Sellahewa (2011) os médicos devem se esforçar para prever a doença grave antes do advento do choque. Preditores clínicos, como hepatomegalia dolorosa e taquicardia após a defervescência, são extremamente úteis para suspeitar de vazamento incipiente de plasma. Os avanços tecnológicos e a disponibilidade do perfil multiplex de citocinas facilitariam esses esforços. A importância do monitoramento diligente e preciso da frequência cardíaca, pressão de pulso, débito urinário e hematócrito para a detecção precoce de vazamento de plasma e ajustes na fluidoterapia não deve ser negligenciada e constitui uma parte essencial e integral do manejo do caso.

[1] O quadro The Wall é parte do programa dominical Domingão do Huck, apresentado pelo apresentador Luciano Huck. Atualmente, é o programa de maior prêmio da TV brasileira.

[2] Arbovírus são vírus que ficam hospedados essencialmente em artrópodes, como o Aedes aegypti. São transmitidos pela picada de artrópodes hematófagos. Existem mais de 210 espécies de arbovírus no Brasil, sendo que 36 deles se relacionam com doenças em seres humanos.

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