No dia 27 de outubro de 2023 a revista MEI Technologu Review publicou a história de Yiyi, uma criança com perda auditiva genética que voltou a ouvir após tratamento com terapia genética. Yiyi é uma das várias crianças chinesas submetidas ao tratamento genético com potencial possibilidade de ter a audição natural restaurada, por natural entende-se sem o uso de dispositivos de amplificação sonora. Na China, essa pesquisa foi liderada por Yilai Shu, cirurgião e cientista da Universidade Fudan, em Xangai, é o líder do grupo de pesquisa em Fudan.
A perda auditiva é a quarta principal causa de incapacidade em todo o mundo, afetando cerca de 6,8% da população global. Uma em cada 500 crianças nasce com perda auditiva, e aproximadamente metade desses casos apresenta perda auditiva bilateral severa a profunda. A maioria dos casos de perda auditiva congênita é causada por variações genéticas. Variações de sequência no gene OTOF, que codifica a proteína associada à membrana otoferlina, são responsáveis por 1–8% dos casos de perda auditiva congênita não sindrômica e são a principal causa de distúrbios do espectro da neuropatia auditiva.
Você deve estar se perguntando o que é a otoferlina? Eu explico: a otoferlina é uma proteína sensível ao cálcio envolvida no transporte vesicular e na exocitose das células ciliadas internas, que são processos críticos para a sinalização das células ciliadas internas para as fibras do nervo auditivo. São as células ciliadas e os neurônios ganglionares espirais formam sinapses de fita especializadas para transmitir sinais acústicos com alta fidelidade temporal. Essa fidelidade é crítica para certos aspectos da percepção auditiva, incluindo localização sonora e compreensão da fala.
Variantes da sequência OTOF podem resultar em proteína otoferlina deficiente ou não funcional, interrompendo assim a transmissão sináptica e causando perda auditiva relacionada à otoferlina.
Também conhecida como DFNB9, a perda auditiva relacionada à otoferlina segue um padrão de herança autossômica recessiva e normalmente se apresenta com perda auditiva neurossensorial de severa a profunda com início congênito ou pré-lingual.
Vale salientar que a literatura sobre o tema está recheada de relatos de fenótipos auditivos atípicos, incluindo leve a moderado, progressivo e até mesmo sensíveis à temperatura corporal, que consiste em um tipo muito raro de neuropatia auditiva sensível à temperatura corporal central.
O espectro fenotípico da perda auditiva neurossensorial relacionada à otoferlina é provavelmente uma consequência da diversidade de variantes da sequência OTOF. Mais de 200 variantes patogênicas e provavelmente patogênicas de OTOF foram relatadas, mas a relação entre o fenótipo e o genótipo OTOF é pouco compreendida.
E como acontece a terapia genética? O tratamento consiste na adição de uma nova cópia funcional do gene da otoferlina. Por se tratar de um gene grande, 6.000 letras de DNA, ele precisou ser dividido em duas partes, encapsulados individualmente em milhões de cópias de um vírus inofensivo. Esse material é injetado na cóclea. Duas seções de DNA se recombinam para formar um gene completo capaz de guiar a produção de proteína otoferlina faltante.
Segundo Shu a audição das crianças apresentou uma evolução significativa, isso quer dizer que crianças surdas profundas passam a ouvir sons de 50 a 55 dB. Ele ainda completa que existe a possibilidade de 60 a 65% atingirem a normalidade da audição.
Outras instituições estão realizando pesquisas com a terapia genética, como a Eli Lilly e a Decibel Refreshgene Therapeutics. Novas pesquisa estão sendo realizadas e os pacientes que já fizeram o tratamento estão sendo monitorados. Além da continuidade das pesquisas, o desejo dos cientistas envolvidos é o barateamento das terapias genéticas, tornando-as acessíveis a toda população.
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