Processamento temporal, ruído e a reverberação em salas de aulas

processamento temporal

Escrito por Sigla Educacional

9 de dezembro de 2024

Como o processamento temporal é afetado pelo ruído e reverberação em salas de aulas

As crianças têm maior dificuldade em compreender a fala em ambientes barulhentos e reverberantes em relação aos adultos. Como podemos imaginar, a perda auditiva torna ainda pior a compreensão de fala em ambientes acusticamente desfavoráveis. Como se isso não bastasse, nas atividades que ocorrem no dia a dia das crianças, os momentos de fala com ruído ocorrem cerca de duas vezes mais do que os momentos de fala no silêncio. Mais de 90% das salas de aula excedem os níveis de ruído ambiente quando desocupadas de <35 dB A e, pelo menos, 15% excedem o tempo de reverberação recomendado de <0,6 segundos, a compreensão da fala em acústica adversa é um grande problema para crianças com perda auditiva que são, em sua maioria, incluídas em salas de aula com crianças com desenvolvimento típico.

Embora a dificuldade de compreensão da fala varie com fatores como a gravidade da perda auditiva, uso de aparelhos auditivos, vocabulário e memória de trabalho, os mecanismos neurais subjacentes que dão suporte a esse processamento complexo são, relativamente, desconhecidos.

Tendo em mente que crianças com perda auditiva apresentam maior dificuldade em entender a fala na presença de ruído e reverberação em relação a seus pares com audição normal, ainda que estejam usando soluções auditivas bem reguladas, logo com amplificação apropriada. A fidelidade da decodificação da frequência fundamental (f0) da voz desempenha papel significativo na explicação da variação nas habilidades entre as crianças. Entretanto, a natureza dos déficits na decodificação de f0 e sua relação com a compreensão de fala ainda não são bem compreendidas.

Para tentar explicar a influência da codificação f0 específica da frequência nas habilidades de percepção da fala de crianças com e sem perda auditiva na presença de ruído e/ou reverberação, Vijayalakshmi e colaboradores selecionaram 14 crianças com perda auditiva neurossensorial, adaptadas com aparelhos auditivos e 29 crianças com audição normal. Foram avaliadas as respostas de seguimento de envelope (EFRs) à vogal /i/ foram registradas em diferentes condições acústicas: silêncio, ruído com SNR de +5 dB, reverberação (0,62 s) e a combinação de ambos. As EFRs foram coletadas com EEG de canal único enquanto as crianças assistiam a um filme mudo.

A discriminação de fala foi avaliada pelo teste de diferenças de características distintivas da University of Western Ontario, com estímulos apresentados monoauralmente.

Os resultados demonstraram que ambos os grupos apresentaram uma interrupção dependente da frequência na codificação de f0, com maior impacto em baixas frequências devido ao ruído e em altas frequências devido à reverberação. Crianças com perda auditiva mostraram maior interrupção em baixas frequências, especialmente com reverberação, e uma relação positiva entre a codificação de f0 em baixas frequências e a discriminação de fala na condição mais desafiadora (ruído e reverberação).

Esses resultados fornecem novas evidências para a persistência de déficits de processamento temporal supraliminar relacionados à codificação f0 em crianças, apesar do fornecimento de amplificação apropriada para compensar a perda auditiva. Esses déficits objetivamente mensuráveis podem estar por trás da maior dificuldade experimentada por crianças com perda auditiva.

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