Tratamento da disfagia: a importância do conhecimento anatomofuncional
O artigo “Variabilidade e relações anatômicas individuais: impactos na funcionalidade da deglutição e perspectivas clínicas”, de Guilherme Maia Zica e Maria Inês Rebelo Gonçalves, publicado na revista CoDAS (v. 37, n. 4, e20240360, 2025), propõe uma reflexão aprofundada sobre a importância da variabilidade anatômica individual na funcionalidade da deglutição e suas implicações para a prática clínica.
Como sabemos, a deglutição é um processo fisiológico complexo, que depende de interações anatômicas e neuromusculares altamente coordenadas. No entanto, tais interações não ocorrem de forma idêntica em todos os indivíduos, já que há diferenças anatômicas significativas que podem influenciar tanto o padrão funcional quanto a suscetibilidade a distúrbios, como a disfagia.
Embora a literatura traga descrições consistentes sobre a anatomia e fisiologia envolvidas no processo de deglutição, existe ainda uma lacuna importante no entendimento sobre como a variabilidade anatômica individual impacta a prática clínica. Essa lacuna se reflete diretamente em diagnósticos, prognósticos e estratégias terapêuticas, uma vez que protocolos padronizados nem sempre conseguem abarcar a singularidade anatômica de cada paciente.
Do ponto de vista da história evolutiva da deglutição humana, a anatomia do trato aerodigestivo passou por adaptações ao longo do tempo. Esse olhar evolutivo auxilia na compreensão de como pequenas diferenças anatômicas podem representar fatores de risco ou de proteção para dificuldades de deglutição.
Do ponto de vista clínico, os autores enfatizam a necessidade de uma abordagem mais individualizada, que considere a anatomia particular de cada sujeito. Essa perspectiva amplia a atuação do fonoaudiólogo, permitindo intervenções mais precisas, diagnósticos mais refinados e, consequentemente, melhores desfechos terapêuticos.
Por fim, o artigo aponta para a importância de investir em pesquisas futuras que correlacionem a variabilidade anatômica com parâmetros funcionais da deglutição, fortalecendo a base científica que sustenta a prática clínica. Assim, reforça-se a ideia de que o conhecimento anatômico detalhado é indispensável, mas deve sempre ser articulado com a compreensão da diversidade individual.
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