O que é a cetoacidose diabética, quadro que levou à morte a chef Tanea Romão e suas consequências fonoaudiológicas
No último dia 19 de abril a chef Tanea Romão morreu, aos 58 anos de idade, por causa de uma cetoacidose diabética. Tanea ficou conhecida após sua participação no programa de TV “Pesadelo na Cozinha”, apresentado pelo chef Erick Jacquin e exibido na Band e Home and Health. Mas afinal, o que é a cetoacidose diabética?
A cetoacidose diabética (CAD) é uma complicação aguda e potencialmente fatal do diabetes mellitus, caracterizada por hiperglicemia, acidose metabólica e cetonemia. Embora tradicionalmente associada ao diabetes tipo 1, a CAD também pode ocorrer em pacientes com diabetes tipo 2, especialmente sob estresse fisiológico, como infecções ou infartos. Nos últimos anos, a pandemia de COVID-19 trouxe novos desafios ao manejo da CAD, com evidências indicando um aumento na incidência e gravidade dos casos durante esse período.
Estudos recentes demonstraram um aumento significativo na incidência de CAD em crianças recém-diagnosticadas com diabetes tipo 1 durante a pandemia de COVID-19. Uma meta-análise envolvendo 124.597 crianças revelou um risco 41% maior de CAD nesse grupo durante a pandemia, com uma forma mais grave da condição sendo observada citeturn0search2. Além disso, a gravidade da CAD foi associada à rigidez das medidas de lockdown, sugerindo que o acesso limitado aos cuidados de saúde pode ter contribuído para diagnósticos tardios e apresentações mais severas
A infecção pelo SARS-CoV-2 tem sido identificada como um fator precipitante para a CAD, mesmo em pacientes sem diagnóstico prévio de diabetes. Uma revisão sistemática e meta-análise indicou que a CAD não é incomum em pacientes com COVID-19, resultando em uma taxa de mortalidade de 25,9%. Fatores como diabetes tipo 2 pré-existente, idade avançada (≥ 60 anos), sexo masculino, índice de massa corporal ≥ 30, níveis de glicose > 1000 mg/dl e gap aniônico ≥ 30 mEq/l foram associados a um risco aumentado de mortalidade
As diretrizes atuais para o manejo da CAD enfatizam a administração de fluidos intravenosos, insulina e eletrólitos, além do monitoramento rigoroso durante o tratamento. A transição oportuna para a administração subcutânea de insulina e a identificação e tratamento da causa precipitante são cruciais citeturn0search5. No entanto, estudos indicam que a adoção dessas diretrizes tem sido subótima, resultando em uma falta de melhoria nos desfechos clínicos citeturn0search10
Complicações graves da CAD incluem edema cerebral, que ocorre em 0,5 a 1% dos casos e é mais comum em crianças, com uma taxa de mortalidade de 21 a 24%. Outras complicações incluem hipocalemia, hipoglicemia, insuficiência renal aguda e choque. A ocorrência dessas complicações destaca a importância de um manejo adequado e tempestivo da CAD para prevenir desfechos adversos.
Em conclusão, a CAD continua sendo uma emergência médica significativa, cuja incidência e gravidade foram exacerbadas pela pandemia de COVID-19. A identificação precoce, o manejo adequado e a adesão rigorosa às diretrizes clínicas são essenciais para melhorar os desfechos dos pacientes. Além disso, é fundamental abordar as barreiras à implementação eficaz das diretrizes para garantir que os pacientes recebam o melhor cuidado possível.
Do ponto de vista fonoaudiológico, a cetoacidose diabética pode afetar a fala e a linguagem por meio de vários mecanismos, principalmente devido ao seu impacto neurológico e à consequente alteração do estado mental. Especificamente, confusão, letargia e dificuldade de concentração são comuns, levando a problemas de comunicação. Em casos graves, a CAD pode causar edema cerebral ou até mesmo acidente vascular cerebral (AVC), afetando ainda mais a função neurológica e potencialmente causando déficits sutis de fala e linguagem.
Aqui está uma visão mais detalhada:
- Estado mental alterado:
A CAD pode causar confusão, letargia e dificuldade de concentração, dificultando o processamento da linguagem e a expressão eficaz dos indivíduos.
- Complicações neurológicas:
A CAD pode causar edema cerebral ou até mesmo derrames, que podem danificar diretamente o tecido cerebral responsável pelas funções da fala e da linguagem.
- Déficits sutis:
Mesmo em casos de lesão cerebral mais leve, déficits neurológicos sutis podem levar a dificuldades na busca de palavras, na estrutura das frases ou na articulação.
- Efeitos a longo prazo:
Episódios repetidos de CAD e hiperglicemia crônica podem ter um impacto de longo prazo na função cognitiva, potencialmente levando a comprometimentos mais significativos da fala e da linguagem ao longo do tempo.
- Desidratação e desequilíbrios eletrolíticos:
Desidratação e desequilíbrios eletrolíticos associados à CAD também podem contribuir para o comprometimento da função cognitiva e das habilidades de comunicação.
- Impacto em habilidades linguísticas específicas:
Dependendo da área específica do cérebro afetada, a CAD pode afetar diversas habilidades de linguagem, incluindo linguagem receptiva (compreensão), linguagem expressiva (linguagem produtiva) e até mesmo linguagem pragmática (comunicação social).
É crucial que os fonoaudiólogos estejam cientes desses possíveis impactos e trabalhem em estreita colaboração com as equipes de saúde para controlar a CAD e abordar quaisquer desafios de comunicação resultantes.
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