Esclerose múltipla, tudo o que você precisa saber
Recentemente, a modelo e apresentadora Carol Ribeiro revelou que foi diagnosticada com esclerose múltipla, doença crônica que atinge o Sistema Nervoso Central. Segundo Carol, os sintomas incluíram falhas ao caminhar, confusão mental ao falar, calores repentinos, que a fizeram confundir com sintomas da menopausa e cansaço extremo, foram 17 dias sem conseguir dormir. Foram dias de angústia tentando ignorar os sintomas, mas, ao ser alertada por sua amiga Ana Claudia Michels, buscou ajuda médica e teve seu diagnóstico realizado. Outras famosas revelaram ter esclerose múltipla, dentre elas Guta Stresses, Ana Beatriz Nogueira, Claudia Rodrigues e Ludmila Dayer, dentre outras.
Mas afinal, o que é a esclerose múltipla? A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória crônica do sistema nervoso central (SNC), caracterizada pela desmielinização, perda axonal e gliose. Considerada uma condição autoimune, a EM resulta da ativação de linfócitos T autorreativos que atravessam a barreira hematoencefálica, desencadeando uma cascata inflamatória que compromete a integridade da mielina e dos axônios neuronais.
A fisiopatologia da EM envolve a interação complexa entre fatores genéticos, ambientais e imunológicos. Polimorfismos no gene HLA-DRB1*15:01 têm sido fortemente associados à suscetibilidade à doença, enquanto fatores ambientais, como infecção prévia pelo vírus Epstein-Barr, deficiência de vitamina D e tabagismo, também contribuem para a sua etiologia.
Clinicamente, a EM apresenta-se de forma heterogênea, sendo classificada em diferentes subtipos, como a forma remitente-recorrente (EMRR), a forma secundariamente progressiva (EMSP) e a forma primariamente progressiva (EMPP). Os sintomas incluem, com frequência, neurite óptica, parestesias, fadiga, espasticidade, distúrbios motores e cognitivos, que variam conforme a localização das lesões no SNC.
O diagnóstico é essencialmente clínico e respaldado por exames complementares, como a ressonância magnética (RM), que evidencia lesões demielinizantes periventriculares, infratentoriais e medulares. O exame do líquor pode revelar bandas oligoclonais, um marcador de atividade imunológica intratecal.
O tratamento da EM envolve tanto terapias modificadoras da doença (TMDs), como interferon beta, acetato de glatirâmer, natalizumabe, fingolimode e ocrelizumabe, quanto abordagens sintomáticas. Recentemente, terapias imunomoduladoras de alta eficácia têm alterado o curso natural da doença, retardando a progressão da incapacidade neurológica.
Apesar dos avanços terapêuticos, a EM ainda representa um desafio clínico significativo, com impacto substancial na qualidade de vida dos pacientes. Pesquisas atuais têm se concentrado no desenvolvimento de biomarcadores prognósticos, terapias neuroprotetoras e estratégias de remielinização, com o objetivo de promover intervenções mais personalizadas e eficazes.
Você deve estar pensando, mas como a fonoaudiologia atua na EM?
As manifestações clínicas da EM com impacto fonoaudiológico incluem disartria, disfagia, disfonia e, em alguns casos, alterações cognitivas-linguísticas. A disartria, frequentemente do tipo mista (espástica-atáxica), decorre do comprometimento das vias motoras centrais e se caracteriza por alterações na articulação, prosódia, ressonância e controle respiratório. Já a disfagia pode surgir em virtude da perda de coordenação e força muscular nas fases oral e faríngea da deglutição, aumentando o risco de aspiração e complicações respiratórias.
A intervenção fonoaudiológica é multidimensional e deve ser individualizada, considerando o estágio da doença, os sintomas predominantes e os objetivos funcionais do paciente. As estratégias terapêuticas incluem:
- Treinamento de articulação e prosódia para melhora da inteligibilidade da fala;
- Exercícios miofuncionais e respiratórios com foco na coordenação fonoarticulatória e suporte ventilatório;
- Reabilitação da deglutição, com técnicas compensatórias (como alteração da consistência alimentar e manobras posturais) e terapias restauradoras;
- Terapia cognitivo-comunicativa, especialmente em casos com alterações de atenção, memória operacional e linguagem pragmática;
- Orientações educativas para o paciente, familiares e cuidadores, promovendo estratégias de comunicação eficazes e segurança alimentar.
O acompanhamento fonoaudiológico deve ser contínuo, com reavaliações periódicas para adaptação das condutas terapêuticas frente à evolução da doença. A integração com a equipe interdisciplinar é essencial, especialmente em contextos de reabilitação neurológica.
Estudos indicam que a atuação precoce do fonoaudiólogo pode prevenir complicações secundárias, como pneumonia aspirativa e isolamento social, além de favorecer a preservação da autonomia comunicativa do indivíduo com EM. Nesse sentido, a fonoaudiologia contribui significativamente para a abordagem holística e humanizada da esclerose múltipla.
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