Porque o cigarro eletrônico é tão agressivo e tão viciante?

cigarro eletrônico

Escrito por Sigla Educacional

7 de junho de 2023

Porque o cigarro eletrônico é tão agressivo e tão viciante?

O relatório Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia) de abril de 2022 mostrou que 1 a cada 5 jovens entre 18 e 24 anos usavam cigarros eletrônicos no Brasil, o que corresponde a cerca de 19,7% de pessoas. Entre os maiores consumidores são homens de todas as faixas etárias, com índice de 10,1% para homens contra 4,8% para mulheres. Dentre as regiões do Brasil, o Centro-Oeste é a que concentra maior número de usuários, 11,2% da população.

O cigarro eletrônico foi inventado pelo chinês Hon Lik em 2003. Farmacêutico de formação, Lik inventou o cigarro como uma alternativa mais saudável ao cigarro convencional, já que seu pai, fumante crônico, morreu de câncer de pulmão. O cigarro eletrônico por ele criado, usado pela maioria ainda hoje, inclui uma pequena bateria que aquece e vaporiza o líquido que contém nicotina e outras substâncias que, quando inalado, chega aos pulmões.

Além da nicotina, os cigarros eletrônicos podem conter ingredientes nocivos e potencialmente nocivos, tais como:
– partículas ultrafinas que podem ser inaladas profundamente nos pulmões
– aromatizantes como diacetil, uma substância química ligada a doenças
– compostos orgânicos voláteis
– metais pesados, como níquel, estanho e chumbo

O plano de Lik deu certo, já que muitas pessoas pararam de fumar cigarros convencionais com a ajuda do cigarro eletrônico, mas será que esse substituto é tão saudável assim? A resposta é NÃO, o produto inventado pelo Lik é altamente viciante.

O grande problema é que esse artefato está deixando jovens viciados em uma idade muito vulnerável, até 25 anos, quando seus cérebros ainda não estão totalmente desenvolvidos e, portanto, propensos às mudanças na estrutura e na química cerebral que ocorrem quando o vício em nicotina se instala. Tendo esse vício instalado ele abre porteira para a instalação de outros vícios, agindo, dessa forma, como a droga de entrada.

E como esse sistema de recompensa funciona no sistema nervoso central? O centro de recompensa é formado pela área tegmental vventral e o núcleo accumbens, que é vital para nossa sobrevivência. É ele quem regula nossa vontade para comer, dormir, nos apaixonarmos, fugirmos do perigo, sentir prazer e todos os processos envolvidos para garantir a continuação da espécie.

Dessa forma, quando o indivíduo inicia o uso do álcool ou outra droga que seja viciante, tal qual a nicotina, essa droga torna o centro de recompensa como refém e muda a sua estrutura química. O grande problema é que em cérebros mais jovens e em desenvolvimento, esse “efeito de refém” é mais pronunciado e prejudicial que em cérebros mais maduros. Com esse “sequestro” e após o uso frequente, o cérebro começa a acreditar que precisa de nicotina tanto quanto precisa de alimento, sono etc. É nesse momento que a nicotina começa a gerar prazer para o usuário e o cérebro começa a acreditar que precisa da nicotina para sobreviver.

Nesse momento, o adolescente começa a ter a falsa recompensa, ele passa a acreditar que a nicotina traz mais recompensas que esportes, notas boas, dentre outras atividades que, normalmente, dariam prazer aos jovens. Com o tempo a nicotina ocupa espaço no centro de recompensa e, durante o período de vigília, grita eu, eu, eu!!!!

Os cigarros eletrônicos (e-cigarros) são dispositivos de administração de drogas altamente projetados que criam e mantêm o vício. Os primeiros cigarros eletrônicos não forneciam nicotina tão eficientemente quanto os cigarros porque forneciam nicotina de base livre, difícil de inalar. Essa situação mudou com a introdução dos produtos Juul em 2015, que adicionaram ácido benzóico ao e-líquido de nicotina para formar nicotina protonada. A nicotina protonada aumenta o potencial de dependência, facilitando a inalação de quantidades de nicotina que são difíceis de serem alcançadas por usuários ingênuos com cigarros ou cigarros eletrônicos anteriores.

Veja também: https://sigla-educacional.builderallwppro.com/vaper-o-estrago-e-bem-maior-do-que-se-imagina/

Você pode gostar também

Compreensão de fala em crianças com perda auditiva

Compreensão de fala em crianças com perda auditiva

Compreensão de fala em crianças com perda auditiva As crianças enfrentam maior dificuldade do que os adultos para compreender a fala em ambientes barulhentos e reverberantes, especialmente se houver perda auditiva, que agrava esse problema. Durante as atividades...

ler mais
Memórias não podem ser sobrescritas

Memórias não podem ser sobrescritas

Memórias não podem ser sobrescritas, a ciência do sono pode explicar Já pensou que triste seria esquecer daquele abraço especial, da primeira carta de amor ou das palavras ditas por aquela pessoa especial? Se nossa memória pudesse ser sobrescrita certamente nos...

ler mais
Festa de aniversário para autistas

Festa de aniversário para autistas

Planeje uma festa de aniversário sensorialmente amigável e inclua as crianças que estão no espectro autista Preocupações sensoriais, de comunicação e as habilidades sociais das crianças que estão no espectro autista podem ser desafiadoras e, para muitos, impeditivas...

ler mais
Mia le Roux, a primeira miss sul-africana surda

Mia le Roux, a primeira miss sul-africana surda

Mia le Roux, a primeira miss sul-africana surda Mia le Roux, miss África do Sul 2024, foi diagnosticada com surdez profunda com 1 ano de idade e, aos 2 anos, recebeu implante coclear, o que lhe permitiu entrar em contato com o mundo sonoro. Le Roux fez terapia...

ler mais
Os autistas e a percepção de tempo

Os autistas e a percepção de tempo

Os autistas e a percepção de tempo Os cientistas Daniel Poole, Luke Jones, Emma Gowen e Ellen Poliakoff, realizaram uma pesquisa com o objetivo de avaliar a percepção de tempo de pessoas autistas. Muitas pessoas autistas relatam dificuldades relacionadas ao tempo,...

ler mais
Compreensão de fala: dependência simultânea de pistas

Compreensão de fala: dependência simultânea de pistas

Compreensão de fala: dependência simultânea de pistas A pesquisa auditiva moderna identificou a capacidade dos ouvintes de segregar fluxos de fala simultâneos com uma dependência de três principais pistas, a saber: são a estrutura harmônica da fala, a localização do...

ler mais

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *