Porque o cigarro eletrônico é tão agressivo e tão viciante?
O relatório Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia) de abril de 2022 mostrou que 1 a cada 5 jovens entre 18 e 24 anos usavam cigarros eletrônicos no Brasil, o que corresponde a cerca de 19,7% de pessoas. Entre os maiores consumidores são homens de todas as faixas etárias, com índice de 10,1% para homens contra 4,8% para mulheres. Dentre as regiões do Brasil, o Centro-Oeste é a que concentra maior número de usuários, 11,2% da população.
O cigarro eletrônico foi inventado pelo chinês Hon Lik em 2003. Farmacêutico de formação, Lik inventou o cigarro como uma alternativa mais saudável ao cigarro convencional, já que seu pai, fumante crônico, morreu de câncer de pulmão. O cigarro eletrônico por ele criado, usado pela maioria ainda hoje, inclui uma pequena bateria que aquece e vaporiza o líquido que contém nicotina e outras substâncias que, quando inalado, chega aos pulmões.
Além da nicotina, os cigarros eletrônicos podem conter ingredientes nocivos e potencialmente nocivos, tais como:
– partículas ultrafinas que podem ser inaladas profundamente nos pulmões
– aromatizantes como diacetil, uma substância química ligada a doenças
– compostos orgânicos voláteis
– metais pesados, como níquel, estanho e chumbo
O plano de Lik deu certo, já que muitas pessoas pararam de fumar cigarros convencionais com a ajuda do cigarro eletrônico, mas será que esse substituto é tão saudável assim? A resposta é NÃO, o produto inventado pelo Lik é altamente viciante.
O grande problema é que esse artefato está deixando jovens viciados em uma idade muito vulnerável, até 25 anos, quando seus cérebros ainda não estão totalmente desenvolvidos e, portanto, propensos às mudanças na estrutura e na química cerebral que ocorrem quando o vício em nicotina se instala. Tendo esse vício instalado ele abre porteira para a instalação de outros vícios, agindo, dessa forma, como a droga de entrada.
E como esse sistema de recompensa funciona no sistema nervoso central? O centro de recompensa é formado pela área tegmental vventral e o núcleo accumbens, que é vital para nossa sobrevivência. É ele quem regula nossa vontade para comer, dormir, nos apaixonarmos, fugirmos do perigo, sentir prazer e todos os processos envolvidos para garantir a continuação da espécie.
Dessa forma, quando o indivíduo inicia o uso do álcool ou outra droga que seja viciante, tal qual a nicotina, essa droga torna o centro de recompensa como refém e muda a sua estrutura química. O grande problema é que em cérebros mais jovens e em desenvolvimento, esse “efeito de refém” é mais pronunciado e prejudicial que em cérebros mais maduros. Com esse “sequestro” e após o uso frequente, o cérebro começa a acreditar que precisa de nicotina tanto quanto precisa de alimento, sono etc. É nesse momento que a nicotina começa a gerar prazer para o usuário e o cérebro começa a acreditar que precisa da nicotina para sobreviver.
Nesse momento, o adolescente começa a ter a falsa recompensa, ele passa a acreditar que a nicotina traz mais recompensas que esportes, notas boas, dentre outras atividades que, normalmente, dariam prazer aos jovens. Com o tempo a nicotina ocupa espaço no centro de recompensa e, durante o período de vigília, grita eu, eu, eu!!!!
Os cigarros eletrônicos (e-cigarros) são dispositivos de administração de drogas altamente projetados que criam e mantêm o vício. Os primeiros cigarros eletrônicos não forneciam nicotina tão eficientemente quanto os cigarros porque forneciam nicotina de base livre, difícil de inalar. Essa situação mudou com a introdução dos produtos Juul em 2015, que adicionaram ácido benzóico ao e-líquido de nicotina para formar nicotina protonada. A nicotina protonada aumenta o potencial de dependência, facilitando a inalação de quantidades de nicotina que são difíceis de serem alcançadas por usuários ingênuos com cigarros ou cigarros eletrônicos anteriores.
Veja também: https://sigla-educacional.builderallwppro.com/vaper-o-estrago-e-bem-maior-do-que-se-imagina/
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